Fim de Linha
 
Teria sido mais fácil se sinais fossem percebidos. Sinais que mostrassem que estava acabando mais uma etapa de sua vida. Teria se preparado para enfrentar o que viria. Mas não. Sem sinais, nenhum. Aquela linha chegou ao fim sem que ela houvesse percebido. Se eles tivessem chegado um de cada vez, seria mais fácil aceitar. Iria se acostumando, como foi no princípio, .quando tudo começou. Ela viera e alguns ainda estavam lá. Foram  indo aos poucos, até que finalmente ela se viu sozinha. Agora estava sendo diferente, eles chegaram todos de uma vez e de uma só vez ocuparam todos os espaços. As casas. Mas não eram os que foram. Eram outros e nem deram oportunidade para que reagisse. Ela bem que tentou compreender, mas não lhe deram papo. Isolaram-na.

Quando foi até a vila mais próxima,para usar o telefone e avisar o que estava acontecendo, teve medo de voltar. Medo de encontrar a sua casa ocupada. Suas coisas vilipendiadas. Mas isso não aconteceu,  tudo estava lá. Eles apenas a ignoravam. Ela não existia. Nunca se sentira tão sozinha enquanto vivera ali. Até seus cães eles aliciaram com guloseimas e eles passavam cada vez mais tempo perto das cozinhas.
 

Ela decidiu no meio da noite. Arrumou suas poucas coisas, os bordados, a agenda e saiu silenciosamente. Atravessou os caminhos tão conhecidos a pé, silenciosamente, arrastando os pés e nem mesmo olhou para trás. Não precisava, levava tudo gravado na memória, no coração. Passou a noite na pequena pensão da vila e só na manhã seguinte pegou o trem. Iria até o fim da linha e só então decidiria o que fazer.

Um homem desceu na primeira estação. Deixou para trás, restos do jornal que lia. Para passar o tempo e distrair-se ela levantou-se
e foi até lá, para pegar o jornal. Antes que pegasse leu a manchete estampada na primeira página: Sem terras invadem vilarejo abandonado e ocupam as casas sem permissão de seus proprietários. Desistiu. Voltou para seu lugar no banco, pensando: era realmente o fim da linha. De mais uma etapa em sua vida. Seria preciso recomeçar mais uma vez. Recriar-se. Mas estava tão cansada...
 
 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Fim de Linha
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