Picolezeiro.
Vendeu picolés por mais de quarenta anos, empurrando seu carrinho pelas ruas quentes desta cidade.
Todos os dias tinha longo trajeto a percorrer. Sonhando ia, com ouvidos e olhos atentos a qualquer chamado de pai ou criança.
Há dois anos havia se aposentado, devido à artrose. Agora andava pouco pelas ruas. Conseguiu apenas um salário como benefício.
Porém, ontem algo lhe chamou a atenção. Quando passava a pé em frente a uma casa onde pessoas festejavam e bebiam, ouviu uns gritos de mulher lá no fundo:
“Ô, picolezeiro! Ô, Picolezeiro! Picolezeiro!”
Ficou atônito, parou um pouco, por eternos segundos de uma vida, uma vida empunhando carrinho de picolé pelas ruelas vazias desta parca cidadela.
O chamado sim era com ele, mas não vendia mais. Pensou em voltar e dizer a quem o chamava que não, ele não era mais vendedor de picolés. Porém se calou, baixou a cabeça e rumou para a igreja, onde agora tem tempo de ir todas as tardes, sozinho, rezar...
Savok Onaitsirk, 25.07.11.