Picolezeiro.

Vendeu picolés por mais de quarenta anos, empurrando seu carrinho pelas ruas quentes desta cidade.

Todos os dias tinha longo trajeto a percorrer. Sonhando ia, com ouvidos e olhos atentos a qualquer chamado de pai ou criança.

Há dois anos havia se aposentado, devido à artrose. Agora andava pouco pelas ruas. Conseguiu apenas um salário como benefício.

Porém, ontem algo lhe chamou a atenção. Quando passava a pé em frente a uma casa onde pessoas festejavam e bebiam, ouviu uns gritos de mulher lá no fundo:

“Ô, picolezeiro! Ô, Picolezeiro! Picolezeiro!”

Ficou atônito, parou um pouco, por eternos segundos de uma vida, uma vida empunhando carrinho de picolé pelas ruelas vazias desta parca cidadela.

O chamado sim era com ele, mas não vendia mais. Pensou em voltar e dizer a quem o chamava que não, ele não era mais vendedor de picolés. Porém se calou, baixou a cabeça e rumou para a igreja, onde agora tem tempo de ir todas as tardes, sozinho, rezar...

Savok Onaitsirk, 25.07.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 25/07/2011
Reeditado em 25/07/2011
Código do texto: T3117065
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.