SOPHIA: POR SUA VERSÃO

Sugiro aos amigos leitores uma prévia ou posterior leitura de SOPHIA, conto publicado em 21/11, para que haja melhor entendimento e para provar que toda história tem pelo duas versões assim como uma moeda tem duas faces.

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Enfim aquele momento que não podia mais adiar. Desci lentamente os degraus da escadaria temendo que me faltassem as pernas. Lentamente tentando não vislumbrar os olhares de todos que estavam no salão. Por que me olhavam daquele jeito? Prendi a respiração.Queria permanecer no alto da escada e evitar qualquer contato. Mas era absolutamente necessário.

Então lembrei-me, tinha que sorrir. Era o que esperavam de mim. Parecia-me que todos, atenderam ao meu convite. E me perguntava se estavam ali pelo meu livro em si, ou pelos relatos polêmicos que todos julgavam basear-se em minha própria vida?Reparei na ornamentação elegante de todas as mulheres, enquanto eu mesma em trajes deplebéia.Certamente daria oque se falar.

E então finalmente o sentido daquele sacrifício. Avistei-o. Realmente, frio como era, tivera coragem de vir pessoalmente representando sua revista. Precisava ser dura e fingir não vê-lo. Ele! O único profundo conhecedor da minha alma, dos meus segredos. Mantive-me à distância. Procurei rapidamente distrair-me para não encara-lo, temendo que ele alcançasse por qualquer instante algum resquício da mágoa que povoava meu ser.

Forçosamente sorri para todos e posei para os flashes. Travei uma batalha comigo mesma fingindo indiferença. Ah minhas festas intermináveis! Hoje, particulamente parecia-me maçante!

Finalmente os últimos convidados e ele ali, tão covarde, não se dignando a uma aproximação, deixou minha festa naquele momento. De certo arquitetando alguma crítica feroz para sua coluna. Quem ele pensava que era afinal? Alguém que podia entrar em minha casa com aquele ar superior, depois de tanto ter pertubado minha vida, obviamente se rindo, triunfante?

Subi pesada as escadas. A festa havia sido um sucesso, um sucesso, uma droga de sucesso!Vesti minha camisola branca, depois de um ligeiro banho, já que água nenhuma limparia o negrume do meu coração.Na minha estante aquele perfume, que ouvi tantas vezes ser o mais inebriante de todos. Minha cama, a pouco tempo, a morada dos deuses. Agora a frieza do mármore nela era reinante. O espelho.... não refletia o que diziam os jornais. Minhas pílulas para dormir, meus verdadeiros amantes, companheiras de todas as noites. Não, não seriam elas. O perfume... atirei-o na parede. Os cacos brilharam no chão. Recolhi o maior de todos e pousei sobre meu pulso.Meu coração aos pulos. Daria a todas uma bela reportagem, já que sempre o esperavam de mim.

E no momento em que me veio a coragem, a cena que eu jamais esqueceria: ele abrindo a porta do meu quarto. Um olhar surpreso,assustado. Dirigiu-se a mim. Caí em prantos e o abracei. Ele correspondeu com ternura. Parecia ser de novo o homem que eu tanto amava. O homem que me abandonara, sem que eu entendesse. Transformando-me naquela patética criança sem vontade de viver.