Consigo Mesmo.

Consigo Mesmo.

Zégo é sempre o melhor no que faz!

Desde a infância sempre o centro das atenções. Reunia-se a criançada a seu redor. Foi esportista e tinha um corpo exuberante, além de ter sido uma daquelas crianças de maior estatura que os demais.

Hoje em dia mora em um apartamento luxuoso com móveis rústicos e eletrodomésticos de última geração. Sua mulher é exuberante; sua profissão, a melhor; ele mesmo, o melhor! O melhor!

É comum vê-lo se aproximar-se estufando o peito, olhando pra cima, erguendo o queixo e dizendo frases feitas que memorizara de algum poeta que no momento não se recorda direito quem. Procura logo ser o centro da conversa, chamando a atenção para algum fato que aconteceu consigo ou expondo alguma curiosidade que de alguma maneira atraia a atenção da maioria.

Este um pequeno esboço de quem é Zégo.

Nasceu pobre, filho de uma parteira e de um frentista, mas jamais permitiu que isso afetasse sua “auto-estima”. Quando adolescente, tendo de trabalhar, buscava sempre os mais dignos para sua grandiloqüência. Se trabalhou em serviços “inferiores” os escondeu do grande pública. Dizem que um dia andou panfletando pelo Jardins, em São Paulo, mas nunca se soube ao certo.

Acordava cedo e dizia para no espelho: eis aqui um homem belo e capaz, inteligente, sábio, um líder nato, um guru, um gênio não reconhecido, penteava os cabelos, passava seus cremes ritualísticos, suas bases, seus perfumes e desodorantes, cortava os fios do nariz e das orelhas, soltava um gás daqueles, dentro do banheiro, logicamente, e em silencia, não gostava que ouvissem ou sentissem os fedor de seus excrementos, e saía para o trabalha, tendo dentro de si a certeza de ser um fenômeno da natureza, um enviado por Deus para abrir os olhos dos néscios!

Eis Zégo, nosso grande homem pertencente à classe dos grandes homens grandiloqüentes, imponentes e resistentes!

Zégo era puro ego!

Zégo não chorava, só se fosse de alegria, uma vez que sua vida não cabia tristeza, não dava gargalhadas, pois homem respeitado não fica por aí mostrando muito os dentes, não fedia, “ora, ora, é o que me faltava!”, dizia, “homem que fede além de porco é um fraco animalizado!”.

Sua alimentação é a mais natural possível. Iogurtes e frutas pala manhã; grelhados e saladas no almoço; vitamina leve no período da tarde, talvez um pão integral; sopa ou massa no jantar; por fim, antes de dormir, comia seu sucrilhos sagrado. Ainda era interiormente uma criança.

Diz sempre por aí que “a opinião dos outros é mera opinião dos outros, a minha é a que importa, a mais mais, a verdade!”. E quem não o conhecia na maioria das vezes achava o que todos tinham certeza: “esse Zégo é um orgulhoso mesmo!”.

Quando comprou seu carro seus amigos tiveram de em tempos em tempos numa mesma conversa fatos relacionados “à sua nova aquisição”, um carro, com pen drive suspenso, suporte de copos, brilhos noturnos, limpadores personalizados, motor turbinados... , etc, etc, etc. Muitas vezes um pé no saco. Noutras gerador de piedade, pois sentia mesmo essa incrível necessidade de expor as coisas da sua vida de um forma quase que insuportável, uma necessidade fisiológica, e os amigos acabam por entender isso. Mas os estranhos não.

Em 1988, depois de uma bebedeira comemorando a “Constituinte”, ele, dirigindo sua máquina, resolveu tirar um fotografia sua, obviamente, olhando seu reflexo no retrovisor do carro, quando se perdeu e socou a roda na sarjeta, arrancando um cesto de lixo e quase atropelando uma cadeirante.

Ele é ele mesmo, ele consigo mesmo...

Savok Onaitsirk, 13.03.10.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 08/08/2011
Código do texto: T3146520
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