Devaneio á la Cocteau

Estão deitados no ar, como se a flutuar. Um homem e uma mulher. Ele loiro como o Sol, ela com cabelos tão escuros quanto a noite. Suas mãos estão unidas levemente, uma palma tocando a outra e os dedos entrelaçados. Ao fundo, uma escuridão absoluta. A única coisa visível é o casal, como se possuíssem luz própria. De repente, um estrondo. O vestido branco da jovem começa a banhar-se de um vermelho sangue a partir do peito. As mãos se soltam, os olhos se fulguram e lentamente o corpo da garota começa a se afastar do de seu companheiro. Ele estica seus braços desesperadamente na esperança de reencontrar a amada. “Não se vá, não se vá!”, implora ele. “Adeus... adeus...”, responde a amada em sussurros. A luz que até então iluminava o corpo feminino começa a apagar e, instantes antes de desaparecer, vê-se cair uma lágrima dos olhos dela. A força sublime que fazia os dois levitar some, e o garoto desaba, encontrando o chão. O apaixonado então se ajoelha e leva as mãos à face, cobrindo totalmente o rosto, para no mesmo instante começar a chorar. É a vez de a iluminação derradeira sumir. “Adeus... adeus...”.

Rodolfo Kowalski
Enviado por Rodolfo Kowalski em 10/08/2011
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