UM CONTO DE NATAL

Era Natal! A cidade estava toda iluminada, as árvores brilhavam com maior intensidade perante à lua. Ela estava caminhando pela calçada, cabisbaixa, quando o velho de barbas longas se aproximou.

- Boa noite garotinha - falou o homem!

- Boa noite, senhor - respondeu a menina.

- O que faz uma menina tão pequena, caminhando pela noite? Indagou o ancião.

- É Natal, senhor! A cidade está linda e resolvi olhar as vitrines.

- Mas não é perigoso sair por aí sozinha? Onde estão seus pais?

- Eu não tenho pais, senhor! Eles morreram quando eu vim ao mundo! Falou a menina tristemente!

- E você vive com quem? Perguntou apreensivo o homem!

- Vivo na rua, minha morada é aquele viaduto ali - apontou a pequena, estendendo o braço magro e esticando a ponta do dedo.

O homem engoliu seco e baixando os olhos percebeu que a garota estava descalça. Como poderia ter cometido ato tão relapso e não percebido que ela era uma garota de rua? E ele ali, expondo a coitada àquela sabatina. A cabeça do homem fervilhava, parecia entrar em pane. Falou com a voz rasgada:

- E você comemora o Natal?

- Oh, sim! Dizem que é o nascimento de Jesus! Falou a menina.

- E você conhece Jesus? Indagou o homem.

- Sim. Ele sofreu por todos nós e deu Sua vida para salvar a nossa, mas os homens do mundo O mataram e judiaram. E o pior de tudo isso, é que não surtiu muito efeito! - continuou a menina - os homens não se amam, fazem guerras, deixam a ganância tomar suas mentes, maltratam seus semelhantes, destroem o mundo, acabam com os animais!

Quando a menina terminou, o ancião estava boquiaberto. Ainda meio zonzo, perguntou:

- Como sabe de tudo isso?

- Ora, eu aprendi com a vida. O senhor acha que estou mentindo?

- Não, de forma alguma, só estou surpreso!

- Eu acredito que se o homem seguisse o mandamento de amar ao próximo como a sí mesmo, tudo isso estaria resolvido - prosseguiu a garota - O amor brotaria como flores sob as pedras, a paz surgiria como uma montanha que vem abaixo sob o efeito de uma avalanche, a solidariedade seria tão farta como o ar que respiramos - completou a pequena!

O homem quis tocá-la, mas não conseguiu, uma cortina de fumaça se formou e a menina desapareceu pela esquina da rua São João. Ele correu tanto que não acreditou que não conseguira alcançá-la. Quando abriu os olhos a mulher estava ao lado da cama. Os olhos parados da esposa o olhavam com carinho!

- Você sonhou, Vergilio - falou docemente!

- Era real! era real! preciso ficar um pouco sozinho! pediu o ancião.

Quando a mulher deixou o quarto, Vergílio passou a mão no telefone e ligou para todos os parentes, queria ter um Natal diferente. Pensou em como havia sido egoísta com todos, guardando seu dinheiro, privando as pessoas de participarem de seus bens e de sua companhia. Imaginou quantos funcionários havia demitido sem chance de se explicarem e uma lágrima rolou pelo rosto marcado do ancião.

A noite do dia 24 era bela e calorosa. No 12ª andar do edificio Amazonas Vergílio dirigiu-se à janela da sala e observou a grande São Paulo imaginando quantas meninas reais estavam caminhando pelas ruas! Sentiu um aperto na garganta e daquele dia em diante jurou que ajudaria mais as pessoas que necessitassem!

Para Vergílio, aquele Natal tinha sido o melhor e o mais bonito, graças à visita de um anjo!

Quem sabe nesse Natal o mesmo anjo não visite alguém que esteja precisando? Paz e amor para todos!