O Mistério de Paula

Paula desceu do ônibus em um ponto antes do que havia planejado. De óculos escuros e a inseparável bolsa preta de couro sintético, olhou em todas as direções e atendeu o celular que parecia tocar com insistência. Após retornar o aparelho a bolsa demonstrou certa apreensão olhando novamente para trás. Acendeu um cigarro e continuou na mesma passada rápida em linha reta. Era dia 10 de abril com um sol forte provocando inúmeras sombras inquietas sobre o solo, aonde pessoas de diversas raças iam e voltavam com suas vestimentas coloridas, suas estampas variadas e suas alegrias movidas pelos acontecimentos, que o olho longínquo do observador precisou criar suas próprias conjecturas, uma dupla de mulheres se destacava no meio do mar de gente do calçadão que a cada dia parecia menor devido ao crescimento populacional. Elas falam se fartando de rir, mudavam os semblantes ficando em silêncio por alguns segundos, mas logo voltavam a se embalar na animação daquela hora, um senhor trazia uma bolsa de couro dependurado de um lado do corpo e uma prancheta com jogos feitos para oferecer a quem se interessar, mostrando a um e a outro, um terceiro parou e olhou, mas não comprar quis, o homem ameaçou ter um momento de ódio, porém levantou o boné coçando os cabelos grisalhos como se dissesse algo a sua abstração e se perdeu sem importância no meio de tantas individualidades. Uma senhora se arrastava com uma bengala e uma cesta de doces forçando ainda mais o seu corpo obeso a cumprir a lei da gravidade. O sol é o motivo para um sorvete e uma garotinha de vestido amarelo e uma tiara de flores no cabelo, usava bem daquele direito e deliciava com um cascão de flocos e cobertura de chocolate. A mãe de olho nas vitrines que mostrava um manequim vestindo uma grife da próxima estação, não impediu que um esbarrão sem culpa acabasse com a festa da filha no seu melhor momento, justamente na hora em que o cascão era mordido e aquele doce imensurável escorria pelos cantos da boca. A balburdia era intensa e cada um caminhava com seu destino na mente, suas fraquezas e suas forças roncando como motores no globo da morte. De repente um carro freou bruscamente em frente ao sinal vermelho, seu calculo perdeu alguns números em relação à velocidade e as cores foram mudadas fora do tempo previsto. Muitos curiosos pararam e imaginaram as cenas que poderiam acontecer caso aquele freio não obedecesse à força daquele pé: Na cabeça do primeiro, o carro gol flex, de cor prata ano de 2008 rompia o sinal vermelho em altíssima velocidade, neste momento um caminhão baú com letreiros nas cores preto e vermelho, onde se lia Mudanças Prajá que acabara de carregar-se para uma prestação de serviço, bate no meio do carro que fora arremessado a mais 20 metros de distância, sendo o condutor lançado para fora do veículo e caindo no meio da pista, violentamente esmagado por uma Caravan da Funerária “Vá em Paz”. A outra curiosa menos negativa imagina o carro avançando o sinal vermelho e chocando-se com uma viatura da Policia Militar que patrulhava lentamente as ruas, ao choque o carro atingido e lançado contra uma loja de calçados da esquina no exato instante em que todos os vendedores estavam na porta à espera de clientes. O infrator que não respeitou o sinal tentou correr mas foi seguro e linchado por uma multidão que aguardava a desgraça, todos os policiais morreram já que a viatura teve perda total. Sobre os vendedores a curiosa não informou no seu pensamento, argumentando que a preocupação era ter um fim emocionante para os envolvidos na batida. Felizmente o sinal se abriu sem sangue no chão e o apressado motorista acelerou e foi embora. Enquanto os nefastos curiosos imaginavam a cena derradeira para contarem em casa aumentando as possibilidades da fofoca, Paula segue nervosa e ofegante olhando para trás como se estivesse sendo perseguida... (continua).