Um regalo

“Te dou de regalo”, disse-lhe o senhor da loja de fiambres onde estava estacionado o carro da menina anti-consumista chamada Flor. Tia Zumira fazia compras no Free Shoop, mas Flor entediada, como sempre acontecia quando acompanhava a tia nesses momentos, sentou-se no carro. Pensou em ler um pouco, quando encantou-se com um gatinho que viu vagando em frente à loja do simpático senhor.Contou-lhe que o gato e mais dois outros que tinha em casa pertencia ao filho de 7 anos.

O gatinho lindo e jovem tinha a pele parecida com um tigrinho, toda pintadinha, mas no pescoço e dorso era manchado de branco. Viu que ele procurava por algo, será que era comida? Lembrou-se que tinha uma bolachinha doce integral e levando-a aproximou-se de mansinho do bichano. Chamava-o “psiu,sví,sví,sví...”,assim como se faz com os lábios quando queremos um gatinho por perto. Ele logo aproximou-se. Ela quebrou a bolachinha em pequenos pedaços oferecendo-lhe. Por respeito ao seu oferecimento, ele aproximou-se da comida tocando-a sem interesse. ”Piquitito”, como o chamou em pensamento, deixou-se tocar por ela, pois não era comida o que buscava, mas afeto. Flor, desde o princípio, quis lhe fazer um carinho, mas como não sabia se seria bem vinda aproximou-se devagar. Piquitito não, pois sabia muito bem o que queria. Desejava o toque da moça em seu pelo macio. Ela falava com a voz infantil e carinhosa, ele se deliciava com seus carinhos. Por instantes, permanceram os dois num mundo à parte, um oferecendo ao outro o carinho próprio e inocente dos animais. Uma linguagem única expressa pelo toque de peles tão distintas entre seres tão diferentes. Ela pensou que ele tivesse medo, ele não teve. Ela pensou que ele poderia ter fome, mas sua sede era de afeto. Alheia ao mundo que se passava ao redor, aos carros estacionados em frente à loja de importados, alheia à sede de possuir objetos de deleite. Ela, perdida na inocência do momento apenas queria dar, queria dar o seu amor. O devaneio dos dois seres que se amavam em seu silêncio particular foi interrompido pelo Daniel, o pai do dono do felino.

- Te dou de regalo. Disse o pai do menino.

È assim que se “quebram” os momentos entre dois seres que se amam.

Com palavras, palavras...o regalo foi embora. E ela partiu para o Brasil minutos depois.

Traduzindo: “Te dou de regalo” - Te dou de presente.