Dificuldade de ser gente.
Como é difícil se tornar uma pessoa digna no mundo, não no mundo de hoje, apenas, mas no mundo de todos os tempos. Existem obviamente as circunstâncias e acasos da vida que fazem boa diferença; nascer num berço de ouro ou ganhar na mega-sena, ou as duas coisas, que seriam explosivas (depois explico) são formas diversificadas de se mudar a vida de qualquer um. Mas, se você ganha na mega-sena e perde a saúde, é melhor não ganhar na mega-sena. Não que se ganhar na mega-sena se perde a saúde, não há correlação com o fato, a não ser algumas exceções, como a daquele paraplégico que ganhou alguns milhões e depois foi assassinado na porta de um boteco barato no Rio de Janeiro. Mas são fatos isolados.
No mais a sombra é para poucos, como dita cruamente o provérbio, para não dizer cruelmente.
A mulher engravida do “pedreiro” (consumidor de crack), sai viva da bocada, quase levando uma facada, corre para a santa-casa, para diante a escada, respira, cria forças para subi-la, sem ajuda do Bija da sorveteria, que àquela altura, em tempos remotos, a ajudaria. E pensa que era com o Bija que deveria ter se casado. E vai pensando em coisas boas enquanto arranca forças não sabe de onde para ir subindo a escada da santa casa depois de fugir da bocada, grávida, prestes a nascer, arriscando levar facada...
É que não bocada onde ela e ele “mocosavam” só se matava a facada. Os caras não tinham revólveres, bebiam demais, cheiravam demais, fumavam demais, eram doidões demais... Queriam comê-la grávida, no café da manhã!
Agora ali, subindo aquela escada, com a criança quase caindo entre as pernas, ia pensando na vida que levava, ainda mais em Guadalajara.
Por sorte ou Deus ou sabe-se lá o que, a criança nasceu saudável e a mãe resolveu batizá-la de Esperanza, mais uma gente aí a cair na marra mundana.
Mas há sempre esperança... “É a penúltima que morre!”.
Savok Onaitsirk, 05.09.11.