Programado para Matar.
Tem um cara ali fora, bermudas, camiseta cavada, rodando em uma bicicleta e falando ao celular, olhando pra dentro das grades de minha casa chamada prisão. Pode estar pensando em roubar, me matar, cometer algum outro delito, ou mesmo aguardando alguém, ou ansioso por falar-me.
E fico pensando aqui com meus botões, e se esse cara resolver invadir minha casa, agora, no estado em que me encontro?
Só há uma saída: o pobre diabo sofrerá uma morte rápida e brutal!
No estado atual, digo, agora, enfrento um exército fortemente armado, sem medo da morte e com vontade de matar muitos, mas não sou um psicopata americano nem sueco nem muçulmano, nem nada disso; enfrento o mundo em defesa de minha pessoa, meus familiares, amigos e próximos, defendo minha honra, minha propriedade, meus sentimentos. Acho que não tem mais nada a defender; o que diria dos que defendem a bandidagem como lema, os que sorriam e se vangloriam de serem funcionários fantasmas, de viverem de favores, os que se regozijam por estarem praticando algum tipo de mal?
Imagina então um carinha desse invadindo meu ambiente, mesmo que esteja armado até os dentes, a morte é certa.
Ontem não, ontem vivia a insônia do “Deserto dos Tártaros”, clássico de Dino Buzatti, um dos cem melhores do século XX, segundo o jornal A Folha do Estado da época, acho que ano 2000, ano em que colecionava estatísticas.
Pensando nisso, o cara da bicicleta lá fora se foi...
Savok Onaitsirk, 02.09.11.