Sozinho no Mundo.

Não restou ninguém!

Estariam todos mortos?

Já andei milhares de quilômetros com um porsche que achei parado na calçada e, por quase todo território nacional,não vi ninguém.

Não existem cadáveres, nem sinais de hecatombe, catástrofe, guerra, terremotos, nada, não existe mais ninguém no planeta. Só eu e os animais, insetos e toda sua população, que estão, pelo visto, adorando a situação.

Nenhum televisor funciona, rádios, não há notícias de nada. Ainda bem que combustível tenho de sobra pra andar, não sei até quando.

Tudo se deu quando eu dormia depois de um porre homérico com o Caboclo Sergipano, coisa de doido. Acordei com a cabeça doendo e logo de princípio notei o silêncio. Olhei pela janela, abri a porta, fui até a calçada, até a esquina, e não vi ninguém... Aí comecei a ficar desesperado e a andar sem parar... Deixei minha casa pra trás e, intrigado, rumei mundo a fora.

Queria encontrar na melhor das hipóteses uma mulher. Imagina se encontro a Kate Winsley sozinha como eu?! Seria demais pra mim! O duro é se ela não me quisesse, mesmo eu sendo o último homem da face da terra. Acho que ela não resistiria. Mesmo assim, da minha parte seria incogitável forçar a barra...

Pois é, quando se está sozinho no mundo, sem lágrimas para chorar, vagando em procura de uma boa alma, que nada, mesmo que uma alma vagabunda, mas que fosse humana e pudesse conversar, qualquer monólogo parece um longo diálogo filosófico.

Fico olhando o tempo, os arbustos, as árvores mexendo com o vento, os postes, mercados abandonados, lojas, manequins que me enganam por vezes, portas de casas, a fim de ver algum movimento, porem vivos só ratos, gatos e cães famintos, chorando por supostos donos que se foram sabe-se lá pra onde.

Já pensei até na hipótese de uma abdução generalizada, em que por um descuido sobrara apenas eu, mas que logo viriam me buscar... Porém tudo é suposição.

Pensei também que talvez estivesse morto e resgatando alguma passagem de mau-garoto que fui, como num purgatório, assim como a mensagem subliminar transmitida naquele desenho animado dos anos 80, “A Caverna do Dragão”, em que na verdade os garotos estão no mundo dos mortos e não se tocam que não vão mais voltar para seu mundo, no carrinho da montanha russa; aquele desenho é cheio de mensagens subliminares, mas na verdade não sei o que ocorre!

Pensei até naquele livro do Marcelo Rubens Paiva, “Blecaute”, mas aqui não tem homens estátuas, meio que emborrachados, aqui não se vê ninguém. Numa hora dessas o que se tem a fazer é pensar, pois não há o que dizer e nem pra quem dizer. É o monólogo de um pênis, ou de uma sombra, como gostava Augusto dos Anjos.

Sei que estou só e penso no valor da vida vivida realmente só. O instinto humano de auto-preservação prevaleceria nessa situação?

Teria eu motivos para me cuidar, tomar banho, passar perfume, ou viveria por ai a consumir os estoques de uísque e cocaína que encontrasse pelos becos? Praticaria exercícios físicos, me cuidaria com alimentos saudáveis? Escreveria? Cantaria?

Falaria sozinho, com certeza, mas outros desígnios perderiam seus motivos.

Pensando assim até se tem a impressão que vivemos para o outro, mesmo Sartre tendo afirmado que “o inferno são os outros”. Um Sartre sozinho no mundo não teria mais valor que um cão imundo!

Vou andar, “preciso andar!” (Cartola), atravessar fronteiras, olhando de soslaio, dando uns gritos para ver se alguém me responde, acariciar alguns animais, dirigindo meu porsche prata, ano 89, que nem meu é (dentro dele fico pensando quem foi seu dono; alguém bem cuidadoso), ouvindo Rolling Stones e Engenheiros do Hawaii no volume máximo, tomando os melhores uísques que encontro nas lojas de conveniência, as melhores cervejas, fumando, vendo as coisas, nadando em todas as praias, saltando de montanhas, atravessando cachoeiras, me arriscando sem medo, sem reprimendas, sem críticas, apenas eu no mundo, fazendo o que quero, até que por fim enjoe de tudo e fique na areia do Guarujá, deitado, olhando o mar e deixando a vida passar, escrevendo à mão essas memórias e lançando ao mar, dentro das garrafas de vinho que porventura consumir...

Savok Onaitsirk, 07.09.11 – Independência ou sorte!

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 07/09/2011
Reeditado em 08/09/2011
Código do texto: T3205954
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