Estágio Primário de Insanidade?

Tentei ligar para alguém... Aí que me dei conta que não tinha telefone. Não tinha orelhão próximo ao local onde moro, o qual nem sei ao certo onde fica. Se alguém me perguntar onde moro é possível que não saiba responder.

A propósito, nem tinha para quem ligar...

Não sei o que houve com o intestino da Lilinha, andou cagando, literalmente, por toda casa. Tem bosta pra todo lado, inclusive em minhas chinelas baianas.

Ornamentei as paredes de minha casa popular, COHAB de prestações infinitas, impostos infinitos, as pessoas acham que somos eternos, as pessoas não, os governantes, esses caras ai... Mas do que falava mesmo? Ah, da casa com as paredes ornamentadas com rótulos de cervejas, várias, pelos quatro cantos até o teto. É que há muitos anos bebe cervejas, não por hobby, vício, hábito ou coisa parecida, mas pelo simples fato de que a cerveja me é um laxante dos melhores.

Adoro ouvir o hino da Alemanha. Mesmo sendo brasileiro, o que isso tem a ver? O hino dos Estados Unidos também é bonito, a pesar de ser o país que lidera o mundo, não gosto, sinceramente, de líderes.

O telefone! Precisava ligar para alguém! Precisava ter contas comigo mesmo! Só de supor que meu corpo tenha porventura tantas dívidas para com minha alma, sinto até vergonha de perguntar.

Homem precisa ser sério. Homem tem que chorar, ter sentimentos, matar e viver por algo. Homem tem que ter um caminho a seguir, meta!

Acho que tenho que dar um jeito em tudo em minha vida, tudo! Começando por mim e com esses desgraçados que ficam amontoados em minhas costas, os quais nem enxergo, as tais almas penadas, espíritos, essas coisas espasmódicas, ectoplasmáticas, anímicas, que ficam ditando o que querem que eu faça! Será que não vão se tocar e ver que só faço o que minha cabeça pensa!??

Do que estava falando mesmo?

Ah, tirar Geraldo Vandré da vitrola... Mas pôr tocar o que? Neil Young!

Bom cara para se escrever e pensar em ligar para alguém, mesmo que não se tenha ninguém para ligar...

A última mulher que tive achava que eu estava morrendo, e isso faz muito tempo... Comentava com as amigas que do tanto que eu bebia não iria muito longe não...

A questão é que ela não sabia de nada! E nem eu!

Um dia um padre parou aqui em casa, querendo falar-me. Abri as portas com carinho e lhe ofereci um copo d água, pois sei que padres não bebem cervejas, as únicas bebidas, afora água, que tinha em casa. O padre adentrou-se com todo respeito e dignidade, fez o nome do pai e veio com um negócio jogando água em tudo quanto é lugar! Fiquei puto da vida e mandei o padre embora imediatamente. Falta de respeito!

Você acredita em Deus? Então você acredita no demônio! É inevitável pensar em um sem o outro. São grandes amigos, assim como o Mestre dos Magos e o chifrudo da Caverna do Dragão, aquele desenho animado. Agora, se não acredita em Deus evidentemente não há demônio, que era o meu caso até hoje. Hoje vi o capeta e desde já passo a acreditar em Deus! Como que aquela cadela foi cagar pela casa inteira? Isso só pode ser o cão!

Mas, do que estava falando mesmo? Da escassez da água no mundo, da miséria que assola boa parte, dos corruptos, canalhas, pessoas que levam a vida pensando em outra vida, e por aqui geram o caos e erguem as mãos para o céu em busca de salvação... Do que era mesmo?

Tentei um número de telefone, mesmo sem saber de quem era, apenas para ver se alguém atendia do outro lado e disse algo humano. Ninguém atendeu.

Tentei comer um pedaço de qualquer coisa, para ver se a bosta saia sólida.

O médico me disse, o psicólogo me disse, o padre me disse, o delegado, o juiz e o promotor também me disseram. Só não sei o que foi que disseram. Estavam tão confusos em suas palavras que não captei grande coisa. Algo como vigilância sanitária ou sossego necessário, não sei ao certo.

Que dia é hoje?

Tinha que ligar para alguém. Não tenho telefone nem para quem ligar.

Aonde vou parar?

Deus, depois da bosta do cão de hoje, e de todas as bostas de todos os tempos, há de me ajudar. Deus ajuda tantos, por que eu não? Só porque não acreditava nele? Há coisas boas na vida que só recebemos depois de recebermos bosta na cara!

Escrevo as mesmas coisas desde que comecei a escrever. Sempre a mesma coisa. Todos dizem!

Mas o que poderia mais escrever fora do que sou? É difícil enxergar para quem só tem um ponto de vista. É como um cavalo com viseira! Não é que escrevo as mesmas coisas, é que quem diz isso leu com a visão obstada e preconceituosa. Seria interessante abrir “as portas da percepção”...

Antes de mais nada “vamos celebrar a estupidez humana!”.

Os loucos sempre foram taxados de gênios ou vive-versa... Internaram Lima Barreto... Paulo Coelho... Allen Ginsberg... Lançaram Dostoievski ao fuzilamento...

E DAÍ!??

SAvok OnAitsirk, 17.09.11

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 18/09/2011
Código do texto: T3226181
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