UM SONHO POSSÍVEL

Não me sentia muito bem. Há muito tempo não tinha tido problemas de saúde e já há uns dois anos não sabia o que era ir em um posto de saúde, afinal, sou funcionário público e o que recebo não dá para pagar um plano de saúde. Como não melhorava, decidi sofrer na fila do posto de saúde. E olha que não evito ao máximo aqueles médicos que olham para nós e diz: - É uma virose!. Mas como o negócio estava ficando complicado demais para os meus padrões, fui.

Chegando no posto, de cara, já me assustei. Estava limpo, com um jardim bem cuidado e com flores na entrada. A porta fechada e ar condicionado funcionando. Os recepcionistas com um sorriso de satisfação e pessoas comportadas, sentadas e vendo uma programação que passava em uma televisão de 52’’ e de LED. Com cara de ponto de interrogação, fui até o balcão de atendimento. Fui recebido com um gostoso “Bom Dia”, respondi e disse o motivo de estar ali. A recepcionista disse que seria necessário alguns procedimentos, pediu meu nome completo, achou minha fixa e disse que fosse a sala número 3 para aferir a pressão e depois o enfermeiro acompanhar-me-ia à sala do médico. O Doutor Damasceno. Mais cara de interrogações, pois ao procurar a sala, todas tinham números, uma limpeza que não entendia muito bem, afinal, sabemos que não funciona!

Chegando a sala, pedi licença e fui entrando. O enfermeiro, um rapaz de uns vinte e dois a vinte e três anos, questionou meu nome e disse para sentar que aferiria minha pressão em segundos. Saiu e voltou com um aferidor que estava esterilizado e em um plástico à vácuo. Pediu licença e colocou o aparelho em meu braço. Aferiu a pressão e disse que estava baixa, mas não era para preocupação, que o Doutor Damasceno iria atender-me. Era para acompanhá-lo e fomos pelos corredores do posto de saúde. Cada andada significava uma visão de um atendimento personalizado, de uma situação que eu não estava acostumado. Não havia pessoas por todos os lados, Havia salas de espera e pessoas quietas. Na verdade, poucas, mas havia. Chegando em uma sala com uma placa azul com letras em branco estava escrito: “Seja Bem vindo. Será atendido por Dr. Damasceno Silva”. O enfermeiro bateu na porta e disse que estava com um paciente e retornando o rosto para mim, disse para entrar! Mais um susto, pois sempre esperamos infinitamente. Adentrei.

Dr. Damasceno já estava na porta e apertando minha mão disse bom dia e sem voltar para sua mesa, questionou o que havia me levado até ele. Informei que não estava muito bem e contei o infortúnio do mal estar estomacal e intestinal. Disse para que sentasse na maca e que iria fazer alguns exames. “ – Estava em um posto de saúde?” esta pergunta não saia de minha cabeça! Depois de vários toques e várias perguntas, disse que eu provavelmente estaria com uma leve intoxicação e que deveria tomar um remédio. Pediu para recompor-me e sentar. Virou-se, lavou as mãos, passou álcool e sem momento algum deixando de conversar. Pegou uma caixa em um armário e disse para tomar de oito em oito horas até terminar a caixa e com certeza estaria melhor. Perguntou qual a disponibilidade de horário que tinha que marcaria um retorno. Falei de meus horários e marcou para depois de uma semana. Sem muitas perguntas, e ainda muito assustado, agradeci e sai da sala. Fui em caminho da saída quando, uma enfermeira me interpela e pede que eu acompanhe. Pronto, agora acaba com todo o encanto. Que nada, era para eu responder um questionário de satisfação e agradeceu a minha passagem pelo posto e já passou, anotado em um papel timbrado, a data de meu retorno.

Saí de lá com cara de quem jamais entenderia isso. O médico disse que seria necessário ficar em casa e avisou que o carro do posto levaria o atestado até a empresa e já haviam ligado para informar do fato.

Ainda sem entender nada, Dona Eucádia ligou para meu celular perguntando se precisaria de algo, pois já receberá o atestado. Disse que precisava acordar do sonho que estava tendo. É muita irrealidade. Sempre uma zorra os postos, uma falta de educação e uma indisposição. O que estaria acontecendo? Fui ao posto para melhorar e sai pior!

Inconformado, parei no bar do Jorgão e contei para ele o que aconteceu. Ele me olhava com um sorriso contido, mas não falou nada. Depois de contar tudo, ele deu uma gargalhada e depois disse que eu precisava assistir mais televisão. Perguntei o que acontecia. Ele disse:

- Amigo. Há uns três meses atrás, foi votado como lei que os candidatos políticos não teriam mais mordomias medicas, como convênios, como prioridade de atendimento e que todos os filhos, esposas, maridos e todos os seus entes deveriam ser atendidos por postos de saúde, e os filhos não poderiam estudar em escolas particulares. Todos deveriam estudar em escolas do estado e ou município, e portanto, a qualidade da saúde está excelente e as escolas estão melhor que escolas particulares. Professores motivados, os alunos que não conseguem aprender no período, recebem apoio para não perder o ano e as escolas estão informatizando. Os hospitais estão recebendo aparelhagem nova e o atendimento deve ser o mais cuidadoso possível. Não se aceita mais médicos com mais de cinco anos de trabalho e se passam em concursos, devem ser acompanhados por um médico da casa. Portanto, amigo, lhe pergunto: Que mundo você está?.

Após escutar isso, acredito que tenha ficado em como por um ano, pois é mais ou menos este o período das mudanças e não vi nada disso acontecer.

Não acreditando muito e seguindo meu caminho, abestalhado e desatento, sai sem rumo certo. Fui andando, cabisbaixo, e pensativo e escuto uma sirene, mas como estava na calçada, nem atentei, só com meus pensamentos. Ao levantar a cabeça assustei e a pancada foi boa....

Neste momento levanto assustado e com um suador danado...

Parei para pensar e vi que não passou de um sonho!

Uma pena.... Um sonho, mas que sonho bom.....

Nilton Cesar Dantas

Outubro/2011