Algum Natal, bem longe daqui...

O pai, descendente de poloneses, trabalhava muito bem na carpintaria, construção de casas, fabricava móveis de diversos estilos. A mãe, uma italiana muito enérgica, tratava a casa com rigor de quem sabe comandar. Tocavam um sortido armazém de secos e molhados, que atendia toda a região. A vida no interior era farta, porém não havia muita regalia quanto a descanso. Quando tinham tempo de folga, iam para a roça, plantar batatinhas, mandioca, abóbora, e tantos outros produtos, de acordo com a época. Enfim, trabalhavam muito. Os filhos mais velhos, iam rente no serviço com os empregados e todos eram felizes e muito ocupados.

Quando apurava a colheita, ou a preparação da terra, toda a vizinhança vinham em puchirão (mutirão em alguns lugares), ajudar na lida. Era mais uma festa que trabalho. De manhã bem cedo, carneavam porcos, colhiam mandioca e saladas de almeirão e repolho. Colocavam em grandes panelões as porções de carne de porco com quirera. Havia também feijão preto e claro, não podia faltar a cachaça de alambique.

Antes da refeição, a mãe, muito religiosa, entoava um canto de louvor e dava início à reza do Terço de Nossa Senhora, todos acompanhavam com muito respeito e devoção. Ao término da reza, havia um brado de " Bom apetite" e todos iam se servir.

Após o almoço, todos seguiam a continuar seu serviço. As mulheres, lavavam as louças e talheres em grandes gamelas de angico. Deixavam-nas em cima de grandes mesas para secarem ao sol.

Durante todo o dia, os que estavam empenhados no serviço davam conta de capinar, virar a terra, semear e ainda tinham disposição para o baile que vinha logo à noite, após outra vasta refeição.

Houve certa feita, que esse episódio aconteceu em véspera de Natal. A mãe pegou os sapatos dos filhos mais velhos e mandou ao sapateiro para consertá-los, para que os mais moços tivessem sapatos novos. Os mais velhos ganhariam outros novos do armazém. Com as meninas, acontecia o mesmo. Quem precisasse de sapatos novos, teria-os, e repassaria os velhos, porém reformados, para as mais moças. As roupas também eram passadas dos mais velhos para os mais moços, enquanto pudessem ser usadas. As mulheres eram hábeis em customizar os trajes das crianças, e os seus próprios.

Houve nesse puchirão, que coincidiu com as novenas de Natal, a chegada de um Padre que viera especialmente para atender ao pedido da família, muito querida por todos na região.

O clima era de festa, de uma grande festa. Os paramentos do Padre recebiam um cuidado todo especial de uma tia solteirona e muito caprichosa. Eram passados, engomados, pendurados nos cabides e recobertos com um lençol muito branco. Não era permitido que as crianças chegassem perto dos paramentos, eram sagrados.

A novena de Natal, começava às 17 horas em ponto, na Igreja que ficava no alto de uma colina. Não havia luz elétrica, por isso todos conduziam velas acesas e era realmente um espetáculo de luzes, misturada aos vagalumes. As crianças se alegravam e desde já se punham ansiosas para a noite de Natal, para a manhã dos presentes.

Nesse dia, o povo todo havia trabalhado no puchirão e estavam ansiosos pela festa do Menino-Deus.

Após a novena e a benção dada pelo Padre, todos iam seguindo pela estrada, com sua velas e lanternas, clareando o caminho até o barracão onde aconteceria a janta e depois o baile.

Na manhã seguinte, as crianças alegremente iam e vinham com seus brinquedos: bonecas de pano, vestidinhos coloridos, camisas de manga curta, calça curtas e alguns muito faceiros, com suas primeiras calças compridas. Os carrinhos eram feitos de sepinhos de madeira, pintados com tinta a cal, bolas de meias velhas bem costuradas, fitas para os cabelos das meninas e chapéus de palha com tira azul para os meninos.

Nunca se via os adultos com presentes... apenas as crianças...

Alguns Natais foram assim, no interior do Paraná, nos anos de 1960... : Que saudades!!!

NENINHA ROCHA
Enviado por NENINHA ROCHA em 26/12/2006
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