meu pai nunca mais

Quando ela olhava pra mim eu já baixava a cabeça. Minha mãe assim, uma raiva que não passava. Meu pai não sai do bar de seu Quelemente. chegava bebado e o odio dela pela vida

tomava conta da casa. ele deitava no sofá e de longe a gente via os mosquitos entrar na boca dele. minha irmã vez ou outra ia lá e batia a camiseta na cara dele pros bichos voar. minha mãe gritava com ela: "deixa esse bicho suforcar com as varejeiras". ela saia de perto.

quando ele levantava estava um carinho só. entrava na cozinha e abraçava minha mãe fogão. "Sai daqui seu olho cão", com um sorriso querendo aparecer no rosto. ele deixava acozinha e ia pra sala assisti tv, daqui a pouco começava a ouvir umas musicas. Ela estava feliz porque meu pai ainda gostava dela, mesmo ela sendo daquele jeito. ele também nao era grande coisa. porque nao podia fazer nada da vida dele por causa da bebida. só via ele com cheiro de cachaça na boca e quando misturava com a comida, o halito dele parecia cheiro de farmacia. nao sei como minha mãe aguentava beijar a boca dele que pra completar tinha dois dentes podres que nunca cuidava.dizia que dente bom era pra rico, pobre era assim mesmo.

que era besteira se preocupar com essas coisas. ele era até bonito. alto, com bigode preto

e bebia muito, mas a barriga dele sempre foi pequena. parecia um menino novo quando via ele de longe.

De manhã quando não estava bebado, pegava na mão da gente e levava até o bar. exibia minha irmã que era muito bonita, dizia que era a cara da minha mãe quando era novo, logo depois ele emendava: "agora tenho aquele troço magro em casa". Mulherzinha infezada como aquela nunca vi. eu ficava sem ação, porque todo mundo dava risada e minha irmã, acho que até sem preceber puxava a mão dele pra sair logo dali. comprava uns doces, e batia na nossa bunda pra ir na frente." fala pra sua mãe que daqui a pouco estou lá pra almoçar.

quando a gente dava o recado, ela ja sabia que ele so aparecia a noite, fedendo cigarro e malandragem...

teve um dia que ela foi buscar ele no bar, porque uma vizinha disse a ele que fosse lá, porque estava acontecendo uma coisa muito feia. ela largou tudo pra la. meu pai estava jogado sobre a mesa de sinuca. parecia um porco demaiado, ao redor dele, muitas velas acesas, e todas as mesas ocupadas, os homens jogando como se fosse normal fazer isso com os outros. minha mãe deixou todo mundo ela em baixo. todos ficaram quieto, pegou uma lata de agua gelada e despejou na cabeça do meu pai, que quase se afogou. acordou sem saber onde estava. quando ele abriu o olho levou um tapa na cara. não apanhaou mais porque juntou um monte de gente e segurou ela.

quando foi no final do dia ele apareceu em casa. com cara de contrangido. parecia um menino que apanhou sem motivo. deitou a cabeça na mesa e começou a chorar. nunca sabia que gente grande chorava daquele jeito. ele gritava alto e batia a mão mesa. eu nao sabia o que fazer. se pudesse colocava meu pai no colo e cuidava dele. porque eu nao via meu pai, via uma criança querendo que a gente compreendesse ela. ficou o tempão de cabeça baixa.

minha mãe no quarto também chorando.

Minha irmazinho foi até ele e passou a mão muitas vezes em sua cabeça e dizendo pra chorar que mamae ainda gostava dele. fiquei querendo fazer também, mas não tive coragem. nunca soube ser amigo de meu pai. que na minha cabeça era a casa de toda nossa infelicidade. mas mesmo assim tive uma dor forte no meu coração. naquela noite não dormi direito so pensando, como medo deles se separarem. fiquei vendo que gostava do jeito dele, do jeito cachaceiro. lembrei varias vezes em que foi bom comigo, me pegou no colo e me ensinou a jogar baralho. e minha mãe se fosse feliz nao seria ela. nao cabe da minha cabeça ver minha mae sem a brabeza dela.....

no dia seguinte. quando o café estava pronto. despediu da gente e falou daqui a pouco voltava que ia pagar um dinheiro que devia.. tocou o cabelo da minha mãe que falou: "me deixa em paz". meu pai nunca mais voltou pra casa.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 30/10/2011
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