duvaldo

quando ele chegou em casa, houve no começo uma estranheza,

nao estava acostumado com os modos daquele homem, de barba, alto e muito culto que ficou em nossa casa durante um perido. foi um tempo conturbado, pois minha mãe estava doente,

e arrumava as malas pra sao paulo em busca de tratamento. Moravamos numa casa gigante, e como era fase de muita dificuldade, minha minha vó resolveu alugar alguns quartos.

meu pai nao gostou da idéia porque nao ficaria bem, sabendo

que havia estranhos em sua casa...

de todo modo ele foi nossa primeiro cliente. estava na cidade pra fazer uma trabalho. nem sabia o que era isso. mas foi assim que ele falou pra minha mãe quando deu o primeiro cheque. ficou no primeiro quarto do corredor, perto já da rua.

discreto, olhava nossa situação a distancia. o ocordo estava incluido o café da manha. o resto era por conta dele.

ele nao conversava muito. apenas usava o banheiro e voltava pro quarto. durante o dia todo ouvia o barulho da maquina de escrever. tomava banho no fim da tarde e passava horas, sentado na praça que tinha de frente a nossa casa. a gente olhava aquele homem com tanta curiosidade. falava tão pouco e se vestia tão bem durante os dias. sempre com calça bem passada, cabelos penteados, usava perfume, e a todo lugar que ia levava um livro

que nunca acaba, sempre o mesmo livro. assim eu entendia.

um dia ele saindo me viu sentado na porta de casa um pouco triste com situação de minha mãe. "qual o seu nome". eu respondi que era paulo, perguntou se eu estava bem. so dele perguntar isso pra mim, ja me encheu de choro o peito. ficou um silencio demorado, foi quando disse mais uma coisa: depois tudo fica bem, te garanto". depois foi pro seu banco da praça, fiquei olhando de longe aquele homem tão bom que perguntou pra mim como eu estava. fiquei com vontade de falar dele pra todo mundo que eu conhecia. mas nao tinha muito o que falar, pois eu so conhecia ele de olhar e pelas poucas palavras que saiu da boca dele. quase todo dia, eu ia pra frente da casa. so pra ver se ele falava comigo de novo. ele ria e tocava as vezes minha cabeça. e isso ja bastava.

na hora do café da manha, passei a acordar mais cedo e fica por ali, esperando a hora dele sair do quarto pra tomar café no mesmo horario. Nessa epoca minha mãe ja tinha ido embora com meu pai. a casa estava muito triste. nao que fosse diferente antes. porque nossa familia nunca foi de falar muito.

"você nao quer tomar café aqui comigo", falou olhando pra mim, que estava num banco de madeira perto da parede. E pode?, claro, senta aqui, você me faz companhia. me senti tão importante. sentei do seu lado e minha vó serviu meu café, tomava encabulado, nao vinha assunto nenhum pra falar com ele.

perguntou da escola, dos amigos, do que eu queria ser quando crescer. essas coisas que gente grande pergunta quando não sabe o que acontece com a gente. mesmo assim foi bom, porque ele conversou de novo. eu respondia, sem ter certeza se falava a verdade

aos poucos fui ficando a vontade com ele, tudo que eu pensava eu queria dizer pra ele, saber o que ele achava. me deu um livro de historias. disse eu gostasse me daria outro depois. uma das historias que li falava de uma moça que era apaixonada por um homem que nunca dava atençao pra ela. falei dele dessa historia

e ele me disse muitas coisas sobre os adultos, de como ele se esforçam pra se entender. achei bonito. ele sabia tanta coisa.

fiquei pensando se meu pai ficaria com raiva se quisesse ser como nosso hospede. meu pai nao parecia saber nada dessas coisas. porque ele so sabia conversar com gente do tamanho dele. pensa que a gente é burro sem la.

um dia ele perguntou se eu poderia acompanhar ele nunca pescaria, eu disse que sim que so precisava pedir pra minha vo,

e foi eu, e mais outras criancadas. ficamos no barrancao do rio. ele nao se interessava pelos peixes. colocava o anzol na agua e folheava o livro. eu reparava mais nele que no rio. "o que você ler"

ele riu e falou que era um livro de contos e explicou pra mim o que era. um monte de historias pequeninhas. e falou que gostava de contos porque tudo acontecia de forma rapida. quealquer um pode escrever. e você sabe? claro, ja escrevi alguns. se você quiser eu te ensino a escrever. nesse momento minha linha começou a puxar, eu não sabia se prestava atenção no peixe ou na promesa dele. esqueci meus braços e meu olho voltou pra ele. você que aprendo? tenho certeza que sim. o peixe escapou. fiquei um tempão olhando pro outro lado do rio, que estava ficando cada vez mais estreito por causa da falta de chuva. me senti bem naquele dia. fomos pra casa de mãos vazias. foi uma das melhos pescarias de minha vida. no caminho de volta ele me falou de muitos escritores famosos que escrevia assim, e contou varias historias desse tipo. eu ouvia tudo aqui com tanta atenção. enquanto ele falava eu entendia o barulho se maquina escrever durante todo o dia. ele confessou também que estava na nossa cidade porue estava escrevendo um livro de coisas que se passava numa cidade pequena. perguntei se faltava muito pra terminar. ja estava preocupado de quando fosse embora. porque nao teria mais ninguem pra conversar essas coisas depois...

minha primeira historia foi de um menino que nunca conseguia pegar um peixe. ele gostou e falou que eu podia melhor se colocasse outras coisas. disse que eu podia falar mais do menino, da vida do menino, pra historia ficar mais forte e prender quem lesse.....trabalhamos nessa historia durante todo tempo que ele esteve com a gente. cada dia coloca algo novo, cada dia cortava um pedaço e foi aumentando ficando bem grandona...

minha vó não parava de chorar so pensando em minha mãe que estava longe e doente sem ninguem por perto. pra minha vó so uma mulher podia cuidar de alguem doente. cada telefonema era um susto que agente passava. meu amigo tocava minha mão

e me olhava como se eu fosse alguem muito importante pra ele. e sempre voltava a falar da minha historia só pra me alegrar...

"porque o menino da sua historia precisa tanto pegar um peixe" eu nao sabia dizer. aquilo me fazia esquecer do resto. eu me punha a pensar nos motivos. nao sabia porque. ele me confortava dizendo que tinha tanta importancia. que isso ia aparecer conforme eu acreditasse na minha historia...

me deu uma historia sua pra ler. fiquei tentando compreender o que ele dizia com aquelas palavras. na escola nao prestava atençaõ na aula de ciencia, por baixo do livro, eu lia e relia escondido pra ver se entrava. quando cheguei em casa estava envergonhado porque nao podia compreender e nunca escreveria algo assim que parecia de verdade. a minha historia na parecia real como aquela, foi quando mais uma vez ele disse que nao se preopasse com isso, que cada um tinha um jeito de escrever

e que eu tinha o meu.....

um dia voltando da escola, minha casa estava cheia de gente.

me pai ligou a tarde. minha vó estava desconsolado. eu entrei

e toda aquela gente me olhando. Minha mãe havia morrido. alguem me abraçou, que nem sei que foi. perdi a vontade de conversar de conversar. nao sabia como seria agora. meu amigo tentava de me dizer algo, mas nem ele me alegrava, tudo tinha acabado. nao imaginava a vida sem minha mãe. naquela semana ele partiria porque o livro tinha acabado, fez uma carta enorme pra mim, com letras vermelhas e grande. ele dizia que eu era um conto bonito e que me amava, por isso partiria com muita com dor. li aquela a carta durante muitos meses. quando lia lembrava de tudo que ele me disse, das coisas da vida, e de como tudo acaba.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 31/10/2011
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