Manoelito Tomas

Não fale assim comigo. Olhei e vi a cara de merda dela. tentando controlar. Minha mãe era assim, a gente não podia dizer nada, que ela olhava reprovando. Só as coisas que ela pensava que era verdade. Tudo mais era bobagem ou coisa de criança. Brigava com meu pai e descontava a raiva dela na gente. E falava que estava educando, quando na verdade so estava usando a gente pra descarregar a raiva dela. e como meu pai era filho da puta, estava quase todo dia estressada e raivosa. Quando alguém dizia pra ela. “deixa esse marido que não presta pra nada”. Ela respondia. “vou ficar sem meu homem?” Níguém conseguia provar pra ela que sua infelicidade vinha do fato de ter um marido puteiro e sacana.

Ela trabalhava como um cavalo fazendo faxina na casa dos ricos. E meu pai diversas vezes roubava pra jogar. Acabava perdendo e sumia varios dias de casa. Quando voltava, estava sem o dinheiro e minha mãe enlouquecida. Jogando pratos pelos chão e gritando como uma cadela durante dia e noite. ele aparecia com cara de merda como se não soubesse, ela voava em seus cabelos e puxava, levava uns tapas na cara e terminava o dia chorando. Lastimando do marido que tinha. De madrugada ele invadia o quarto dela e fechava a porta. Fazia as pazes, trepava a noite toda e de manha ela acordava cantando como se de novo voltasse a viver. Ele sai pela manha pro trabalha que era do lado. Uma pequeno comodo do lado de nossa casa que era utilizada como oficina eletronica. Ele concertava televisão de quase toda cidade, televisão e radio. Ela levava até ele seu almoço. Conversavam horas enquanto ele trabalhava, ria e contava historias. Eu via aquilo e me aterrorizava. Com os créditos acumulados tinha permissão de sair com os amigos a noite.

La pelas nove, durante a novela aparecia um amigo desses, chamando pra sair. Dizia com sorriso que só iria ali e voltava. Ela concordava e fazia jurar que não ficara até o dia seguinte. Ele lembrava algo no ouvido dela, que ria um prazer. Descia a rua de baixo até a ponta da entrada da cidade. Deus sabia quando voltava. Minha mãe sabia disso. Sabia que estava sendo enganada. Sabia que seria traida naquela noite, sabia logo seria novamente roubada. Sabia que ele nunca seria o marido que sonhava.

Via ela sentar na cama e olhar a parede, rezava e deitava, quando passava pra tomar agua via os olhos dela esbogalhado inquieto no teto. Eu na sala vendo televisão, vez ou outra passava somente pra saber como estava. A madrugada continuava, até que de cansada ela apagava. Quando ia dormir quase o dia clareando ele ainda não tinha chegado. Ela acordava esmorecida. Fazia o café e deixava esfriando sobre o fogão. Tomava o xicara e comia qualquer coisa. Quando voltava da escola perguntava pra ela se ele tinha chegado. Ela dizia chorando cuspindo mais decepção que raiva. Numa resignação que transferia a raiva pra mim. foi quando diante disse pensei num jeito de ajudar minha mãe precisava ajuda-la sair daquele sofrimento. Não suportava mais ver sua esperança cada dia sendo diminuida. Ela massacrada pelo calhorda do meu pai. Aquela ideia de ajuda-la me foi consumindo naqueles dias.

Entrei num estado de confusão muito grande. Porque qualquer coisa que me vinha parecia insufiencia. Então num fim de tarde depois do café. Sentia de frente ao colégio que ficava na praça, coloda a minha rua, ai apareceu finalmente a idéia que fiquei surpreso com sua simplicidade.

Percebi nesse dia que as coisas simples estavam muito distante da gente.

Voltei pra casa na esperança de naquele dia mesmo ajudar finalmente minha mãe a encontrar a felicidade.

Dentro de casa vi minha mãe arrumando a cozinha, varrendo, catarolando uma musica alegre. Entrei e perguntei pra ela se ainda tinha

Do doce que foi servido no almoça. Disse que sim, que pudesse pegar na despensa. Peguei um pouco com uma colher de pau. Fiz questão de elogiar enquanto saboreava. Ela riu de volta enquanto continuava a limpar a cozinha. Na hora que ela virou de costa, via seu corpo pequeno,

Sustentado uma vida toda. Meu pai como sempre não sabia onde estava, não aparecia em casa há alguns dias dizendo que viajou a trabalho, quando sabíamos que ele estava entocado na casa de alguma vagabunda da cidade. Toquei no braça dela que me olhou surpresa e perguntei se estava tudo bem. Respondeu com a cabeça que sim, deixei ela e sai a procura de meu pai. Estava me sentindo forte. Sentia que dava já pra encarar e saber o que acontecia em sua vida.

Fui até a rua da Nobreza, antigo vale de prostituição. Lugar onde os homens deixam seu dinheiro em troca de sexo torto. Avistei um homem saindo de uma casa de esquina. Perguntei. Estou procurando meu pai. Manoelito Tomás, o senhor conhece? Sim, está no final da rua num jogo de cartas. Agradeci e acalmei dizendo que era seu filho. que apenas queria dar-lhe um recado. Quando cheguei na casa indicada. Atras das cortinas de plasticos, avistei ele sentado, rodiado e duas mulheres. Uma tocando sua cabeça, outra do seu lado alisando seu ombro com o rosto voltado em sua direção. Chamei pelo nome. Manoelito Tompás? Quando ele virou, disparei dois tiros em sua cabeça. Vi meu pai no chão. Sua cabeça era uma pasta esburacada. As vagabundas correram. Todos correram. No seu bolso, peguei sua carteira. A foto de nossa viagem de férias ainda estava lá. Me veio uma vontade de chorar. Sabia que eu amava, sabia que sofreria a vida toda por isso. mas acima de tudo, minha mãe finalmente está livre, mesmo sabendo que nunca mais ela vai me olhar na cara.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 08/11/2011
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