ERA UMA VEZ UM CANÁRIO BELGA

Esta é a história de um canário belga, que nasceu e cresceu em cativeiro. Mas seu instinto o fazia inutilmente bater as asas, bicar as paredes, era tanta audácia que tentava até retorcer as grades da gaiola. Não entendia porque estava ali, admirava pardais a voar, de cá pra lá. Pagava por tanta beleza sem ter noção disso. Entoando aquele canto de indignação, encantava ainda mais seu dono, que também não era livre, pois estava preso, à rotina, ao medo, aos traumas, aos bens matérias.

Um belo dia, enquanto limpavam sua gaiola, aproveitando da distração do seu “bem feitor”, voou curto e alto para o topo de uma mangueira, estufou o peito, e soltou um som jamais ouvido, propício ao momento nunca desfrutado.

As horas passaram e lá permaneceu. Veio, a noite, a fome, a sede e ele foi decrescendo seu canto, mas não conseguia sair dali, mal sabia voar, procurar comida. Neste momento lembrou-se que estava livre e preferia todas àquelas adversidades ao cárcere e recomeçou a cantar com a mesma força e alegria do primeiro momento.

Foi quando sentiu uma dor envolvendo seu corpinho, diante de tanta rapidez nem viu qual era o predador noturno. Aquele belo canário belga morreu feliz, realizado, descobriu que existe algo além de água fresca, comida e conforto.

Quanto ao seu dono, ele continua vivo, porque apesar de não ser sábio é racional, sabe que, passou toda sua vida, em busca de dinheiro, poder, sucesso, suficientes apenas para proporcionar prazeres paliativos, alegrias momentâneas, futilidades, a ele e aos que o rodeiam. Ele não aprendeu a direcionar tudo isso ao bem, não se desprendeu, de fato não está preparado para a liberdade, assim como o canário belga, não sabe voar.