O cortador de unha

Era um homem especial. Muito diferente de tantas pessoas que ele já conhecera, mas, afinal, ele não ligava para isso. Preferia ser como ele mesmo, com suas próprias características, com seu entusiasmo de sempre em sua forma particular, sem importar com o desígnio que pudesse ter.

No entanto, muitos o achavam estranho por uma mera bobagem. Afinal, no mundo em que vivia, ele achava que estava diante de pessoas sem olhar crítico. Só falavam asneiras, não prestavam atenção no que diziam e nas próprias vidas; apenas em criticar os outros. Fato: ele, coitado, andava sempre com unhas grandes. Talvez, até enormes, não se dando o luxo de cortá-las. E o pior de tudo é que ele andava com um cortador de unhas, só que ele não a usava por mais que o pedissem, ordenassem ou implorassem por tão grandes e feias que eram as unhas.

Era uma pura falta de vaidade talvez, só que ele gostava de unhas por fazer. E gostava de mulheres assim também. Sem teve relações com mulheres assim e, se elas cortassem, terminava logo o namoro, sem pensar duas vezes e sem chance de reatar. Era assim mesmo, sem vaidade e demasiado egoísta. Podia até vã esta filosofia ou puro fetiche, entretanto para ele era como se fosse um ritual: sem unha, sem namoro.

E, assim, todos o achavam esquisito, sem se importar com seu parâmetro particular. Todos riam de sua cara, achavam-no louco demasiadamente. Ele começara a ficar tenso quase louco. Não sabia o que fazer mesmo sempre tendo um cortador de unhas no bolso, mas não dava o braço a torcer.

Passaram-se os dias e ele começou a ficar dentro de sua casa, sem sair dela para qualquer coisa que fosse. Os amigos começaram a ficar preocupados pensando em levar até uma manicure para ajeitar aquelas unhas, já que ele não as cortava e nem sequer saía da casa.

Uma semana passara e nada. Até que ele recebeu um telefonema de uma amiga querendo encontrá-lo. E ele sabia quem era: uma amiga que tinha unhas maiores que as dele. Acabara cedendo e aceitou o convite.

Encontrou-se com ela na noite seguinte em um restaurante da esquina: ele já estava ficando esquizofrênico pensando que todos iam rir de suas unhas. Cumprimentaram-se e sentaram-se. Conversaram muito até fazer o pedido. Comeram e num momento exato amiga pegou uma faca afiada e conseguiu cortar uma das unhas. Quando ele viu a unha cortada, ficou totalmente perturbado. Pegou o cortador de unha e suicidou-se.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 15/11/2011
Reeditado em 22/11/2011
Código do texto: T3337771
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