VIAGENS MÁGICAS

Thiago estava num grande dilema – pensou, pensou e por fim resolveu apenas imaginar a sua ida a Holanda. Deitou cobrindo-se até a altura do pescoço, fez um exercício de relaxamento e ficou aguardando a grande viagem. Era assim que ele conhecia o mundo e, supostamente, as pessoas.

Thiago era puro espírito! Ele não concebia uma integração perfeita entre o seu corpo e o seu espírito. Achava complicado deslocar-se até onde desejava e, assim, transcendia ao tempo, viajando pelos continentes.

Pensei de início que talvez fosse ele apenas um sonhador, um escritor que se entregava ao pensamento, mas Thiago era diferente, ele voltava de suas “viagens” como se em verdade elas tivessem ocorrido. Não havia alucinógenos ou qualquer processo de indução àquelas viagens.

Observei-o em sua “chegada”, ele estava feliz e bastante falante. Disse ter conhecido lugares maravilhosos e em um deles uma garota portadora de uma enfermidade incurável, mas que lhe dissera que era feliz por tudo que já tinha ganhado da vida. Disse também que gostaria de ser como ele para conhecer muitos países e pessoas de todo o mundo. Eu o olhei intrigado! Seria ele um louco? Mas que loucura tão fascinante era aquela que proporcionava tantas oportunidades de conhecimentos? Resguardei-me, era hora de sairmos para almoçar. Ele olhou-me e, com um leve sorriso, perguntou se teria mesmo que “levá-lo”. Eu sabia que ele estava se referindo ao seu corpo e respondi-lhe, com ar de cumplicidade, que teria que levá-lo.

Eu não tinha o dom de afastar-me assim tão livremente, meu pensamento era induzido, preso por conceitos, valores, afetos, desafetos. Thiago era livre! Ele não buscava as mesmas coisas que buscam a maioria das pessoas, ele buscava a mansidão, a serenidade, a felicidade, o amor. E ele as encontrava em suas viagens mágicas.

Pergunte-lhe um dia: Você não gostaria de ir a uma favela, um hospital ou a uma penitenciária? Lá estão os doentes do corpo e da alma. Eles ficam aflitos em busca de uma palavra para aliviar-lhes as dores.

Ele olhou para mim, como que penetrando a minha alma, e disse:

- Eu procuro visitá-los sempre! Acaricio-lhes as almas! Eles não me vêem nem me ouvem, mas sentem-se um pouco mais aliviados. Se eu for em realidade estarei levando meus limites!

Depois sorrindo disse:

- Você não entende o que eu falo, acha que sou um louco, um pretensioso que pensa ser Deus, não é?

E continuou:

- Eu sou apenas um viajante que aprendeu a encurtar caminhos. Não preciso morrer para saber o que é a morte e digo-lhe que qualquer pessoa pode conseguir viajar sem drogas ou alucinógenos, apenas aprofundando o desejo, direcionando a mente a libertar-se do corpo, e assim, solto, eu vou longe...

Fomos almoçar. Ele serviu-se de porções mínimas, bebeu meio copo d’água, apreciando sua limpidez, falou sobre o universo e também sobre as profundezas da terra, agradecendo o alimento e a todos que o serviram. Depois sorriu. Um sorriso iluminado.

Criatura fantástica pensei.

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Suely Sousa
Enviado por Suely Sousa em 20/11/2011
Código do texto: T3347156
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