A caneta

Menezes sempre foi um homem sozinho. Nunca foi de ter muitos amigos. Fazia sempre sozinho as coisas, quando as fazia. Do contrário, ficava em casa lendo seus livros. Sempre fora muito apegado a leituras; quase não trocava nada por um bom livro, como não trocava sua boa caneta – que usava há anos – por qualquer coisa. Usava-a para tudo, escrever, fazer anotações em seus livros, qualquer coisa.

Preferia, por muitas vezes, conviver com os personagens dos livros ou, até mesmo, estar com os autores dos seus romances preferidos e discutir os mistérios da vida, debater a causa existencialista das coisas que, deveras, deixava-o inteiramente inquieto. Tentava entender o verso e o reverso das coisas, e tentar aprimorar o melhor dos momentos vividos através do que aprendera com as faltas cometidas e as decepções encaradas, pois achava que a vida era feita de alegrias e não de tentativas.

Nunca teve muitas relações. Para ele, nenhuma dava certo. Todas as mulheres o abandonavam por achar que ele preferia os livros a elas. Achavam-no esquisito demais, principalmente se o viam com a caneta. Uma caneta suja, totalmente acabada devido ao tempo.

Refletira muitas vezes sobre essa caneta. Havia se apegado muito a ela, mas achava que já estava na hora de jogá-la fora. Usou-a muitas vezes em momentos importantes da sua vida e não queria fazer isso, no entanto acabar cedendo ao ímpeto exterior a sua vontade.

Jogara fora no dia seguinte ao que passara refletindo sobre seu comportamento. Ficara triste, mas resolveu não se importar. Tentara fazer outras coisas para ocupar a cabeça: ler algum livro, assistir a televisão, jogar cartas... Qualquer coisa.

Horas depois, seu telefone toca. Era Meireles, um grande amigo de infância. Ligara para saber como Menezes estava e convidara-o para sair com outras duas amigas, mas Menezes precisava buscá-la em sua casa. Quando Meireles pediu para o amigo papel e caneta para anotar o endereço e o telefone da amiga, ele estava sem nenhuma caneta; solta um urro desesperado de ódio e começa a chorar.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 29/11/2011
Reeditado em 21/05/2014
Código do texto: T3363218
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