A cafeteira

Era uma pessoa simples, indiferente dos outros e sem muito preconceito em tudo. Respeitava a todos e tratava com o mesmo respeito que recebia das pessoas. Tinha sempre o hábito de andar nas calçadas de seu bairro. Era conhecido por todos, além do mais morava em uma cidade muito pequena. Fora funcionário público por muito tempo. Abandonara a profissão por falta de vocação. Tentara outras coisas, mas sempre fora em vão e frustrado em todas as suas tentativas.

Passou muito tempo sem emprego. A única coisa que fazia era passear e sentar café em um armazém. De café, ele entendia tudo. Sabia onde os grãos de café eram cultivados, conhecia as suas variações, além de fazer um dos melhores cafés da cidade. Então, resolveu pôr-se a trabalhar numa velha cafeteria que há anos rendia visitas de várias pessoas da cidade e redondezas.

Semanas passaram-se e mais pessoas começaram a vir ao armazém apreciar o maravilhoso café de Meireles. Os sentidos gustativos do seu café atraiam muitas pessoas. Parabenizaram-no muitas vezes e sempre pediam a receita do café, mas sempre negara em dá-la.

Começou a cogitar a possibilidade de abrir seu próprio armazém. E pôs-se a fazê-lo. O pouco dinheiro que possuía mais o que conseguiu trabalhando deu para abrir seu café. Usara quase sempre as mesmas cafeteiras, mas possuía uma em especial que não deixava ninguém usá-la. Pensava que tinha algo especial nela que pudesse deixar o café com um gosto mais especial.

Passaram-se anos e Meireles continuava a fazer sucesso com o seu maravilhoso café. Até que um belo dia ele sumiu junto com a cafeteira. Nunca se soube ao certo o que acontecera. Não o acharam na sua casa. Estava vazia. Sem ninguém. Não possuía parentes para entrar em contato e saber de notícias. Das poucas coisas importantes que acharam eram livros e mais livros sobre estudo de café. Não havia rastros de seu desaparecimento. Algumas pessoas, sempre possuindo imaginação fértil de cidade pequena, achavam que Meireles havia adentrado ao mundo do café literalmente e virado a imaginação da cafeteira.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 29/11/2011
Reeditado em 29/11/2011
Código do texto: T3363219
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