O Conto da noite ilustrada

Cigano, um dos meninos da rua do Fio saiu do trabalho em sua moto cansado. E se não fosse aquela chuvinha iria direto para sua casa. Pois é a chuva começou fraquinha e de repente, tornou-se um aguaceiro forte, que fez o rapaz encostar no primeiro toldo que viu.

De lá dava pra ver a casa de samba “A Grande Família”, que naquele momento estava fervilhando. Muita gente estava se divertindo naquela sexta feira, que de tanto olhar, logo que a chuva passou deu vontade do rapaz ao menos se aproximar.

Lá chegando identificou a lambreta de um de seus amigos e foi aí que resolveu entrar. Pagou o ingresso, ligou pra esposa e deu uma desculpa, pois ia se atrasar.

Procurando, procurando encontrou Pilão, que estava dançando agarrado e já meio alto, de tanto beber a água que o passarinho não bebe e o garçom suado no meio daquele mundaréu de pessoas servia com alegria.

O samba rolando e Cigano identificando o seu amigo de guerra, se enturmou e chamou

O amigo, que juntos foram parar assentados numa das mesas da festa, que estava muito quente.

Após umas duas cervejas Cigano estava todo serelepe e Pilão com a força do amigo, já meio bacana se sentiu ainda mais forte e logo de cara avistou umas moças, uma loira e a outra morena, que dançavam se revezando com um senhor de meia idade. E disse:

- Quer ver só Ciganote como eu trago para a nossa mesa aquelas duas gatas?!...

- Olha primo, isso não vai dar bronca?!...

Pilão: Deixa com o mestre!

E assim ele se aproximou falou algumas coisas a pé de ouvido com a loira, que se derretia em risos até convencerem também a morena que não estava muito animada para vir. Mas enfim, vieram e dançaram a noite toda, deixando o senhor de meia idade desconsolado.

Lá pelas horas da matina, Pilão já perdido de amor paixão, beijava-se profundamente com Matilde e Cigano, com a morena avançava apenas centímetros.

Os dois prá lá de Bagdá, quando a festa em definitivo acabou puseram as meninas, cada uma em sua garupa e firmaram passos para levarem-nas em suas residências. Porém, Pilão já sem rumo sugeriu todos irem dormir no motel.

A loirinha adorou, mas a morena relutou até o último segundo.

- Não, não e não ninguém divide o Pará!...

- Matilde não e não.

Matilde dizia: Cala a boca Selma e aproveita. Eu estou apaixonada por esse tanque de guerra.

E discutindo pararam na frente do motel “Fé em Deus”, que na Tropicália fazia a festa dos meninos do Telégrafo, concorrente sem igual do “Pigarra” bar.

Ah tempos áureos esses, que com certeza só voltam através de momentos como esse. De desespero mesmo.

Adentraram no bar do “Fé em Deus” e pediram duas cervejas. Conversaram um pouco e Pilão foi logo pedindo a chave para o senhor Fortunato, dono da espelunca, que aos olhos de qualquer embriagado era um “Ele e Ela”, motel de primeira qualidade naquela cidade.

Em banho Maria, dois minutos que Pilão e Matilde subiram para um dos quartos, a todo vapor. Selminha e Cigano ensaiavam beijinhos com muita enrolação, quando ela disse ao rapaz:

- Meu amiguinho, não sou quem pensas. Pelo estados que estás agora poderia me aproveitar, mas sei que depois vais te arrepender.

- Como assim! Disse Cigano enrolando a língua.

E mal acabou de falar num barulho infernal num dos quartos e Matilde desce pela escada todo rasgado e gritando:

- Meu Deus esse menino é louco. Ele quer me matar. Me ajudem por favor!

Pilão de embriagado ficou bom rapidinho ao descobrir que a borboleta era Mariposa.

No Deus me acuda instalado, entre Pilão que queria matar Matilde, que na verdade era Paulão. Selminha, a moreninha tratou de sair pelo lado e deixar Cigano abestalhado, sem qualquer ação.

De tão enfurecido que ficou Pilão, foi necessário chamar os psicólogos da noite, a polícia, para que o “Fe em Deus” não se transformasse na casa do cão.