A ausência de Firmino

Quando olhei o pé vi que a sandália era diferente. O olho da cara. Comprada na feira do Mandim

- Gostou?

- Gostei. Foi quanto.

- Segredo.

- Comprou pra sair com ele?

- Sim . ele gosta de meus pés.

- Besta quem gosta de pé. Eu gosto de você inteira

- Ciumento. Sabe que gosto de você...

- Não desse jeito.

- Bobo, vai arrumar alguém bom pra você...

- Onde ele vai te levar?

- Não sei ainda. Só de estar com ele me basta. Não penso mais em ninguém sabia?

-

Desde que Cinira se apaixonou por Firmino que não recebo mais atenção dela. Pensei que ela fosse gostar de verdade de alguém. Ai apareceu esse homem na cidade . E ela não pensa em outra coisa..

-Você quer sair hoje pra tomar sorvete?

- Gostaria muito, Miltinho, mas preciso ficar descansada. Firmino vai passar aqui no começo da noite. se quiser a gente pode sair outro dia.

Isso me dá um desgosto, é tão ruim a gente gostar de alguém e essa pessoa não ligar pra gente. Já fiz tanta coisa por ela. já comprei presente, já ouvi suas dores, até dinheiro já emprestei. Quantas vezes ela me ligou, e eu sai da minha casa correndo só pra saber o que se passava. Dei meu ombro e acalentei quando precisava de companhia. Achei que era só questão de tempo. Uma vez chegou e disse que eu causava ternura nela. Fiquei todo assombrado. Não dormi direito, entusiasmado com sua confissão. Ai, apareceu esse tal de Firmino na cidade, sem graça nenhuma, que não está nem ai com nada. Enfeitiçou o coração dela sem fazer esforço nenhum. Eu perdi todo meu tempo...

- o que você está pensando, Miltinho

- nada não, é que amanha vou trabalhar cedo e estou com pouco de sono

- Mentiroso! Quer conhecer Firmino. Se ficar um pouco com ele vai me compreender. Ele me inspira muito

- É?

- Sabe, eu falo muito de você pra ele. Digo o quanto você é importante na minha vida.

- Sei

- Sabe aquela pessoa que não é egoista? Que ouve você e gosta de seus amigos? Não é perfeito, Mitinho?

- Muito!

- Isso é um namoro?

- Sim! Quer dizer, ainda não tenho certeza. Tenho vontade de viver isso, sabe, não penso mais a minha vida sem ele..

- Ta assim é?

- Não é maravilhoso? Lembra que te dizia o quanto queria encontrar alguém assim

- Ah..

- olha vou tomar um banho. vou deixar a porta aberta, senta ali no corredor. Quero continuar conversando.

- Preciso ir.

- Precisa nada. Fica só mais um pouco.

Ela ligou o chuveiro e tirou toda a roupa. Nunca teve vergonha de mim. É comum é ver Cinura nua. No rio adorava ela mergulhando nua, na agua turva. Insistia pra eu também tirar a roua. Confessava que se sentia muito a vontade comigo. Depois deitávamos na areia, fazendo castelinhos e ela contando as encrencas que se metia. Cinira já teve tantos homens, tantos namorados. Quando pensava que tinha acabado ela me trazia outro. Transou com Seu zé da mercearia na casa dele quando a mulher viajou. Pegou também seu Mario da Farmácia. E estava pensando em aceitar o convite do vereador Jorge Caldas, quando apareceu essa firma de estrada. Eu até aguentava ela sair com os outros por safadeza, mas com esse não é diferente . Não vem na minha casa e não me chama mais pra nada. Gostava quando no meio da noite ela batia na minha janela. Ficávamos na calçada até de madrugada rindo e falando da vida. Da vontade que escondia de ir embora. Coisas que só comigo tinha sentido.

- Quer me esfregar minhas costas?

- Não sei.

- Entra aqui.

Abriu a cortina do banheiro e me passou a bucha ensaboada. Esfreguei até a cintura. Subi até o pescoço.

- Devagar, Miltinho! Assim machuca

- Odeio você!

- Mentira. Você me ama

- é ódio.

- Você gosta de meu corpo?

- Você sabe...

- Fico tão insegura com Firmino. Ele tem o corpo tão forte de homem. Adoro seu cheiro. Fico arrepiada perto dele.

- Você é tão cadela!

- Eu sei. Quer entrar aqui na banheira?

- Não. Preciso ir, estou cansado.

- Vem, tira essa roupa logo, quero te ver. Seu corpo também é bonito.

- Você nunca disse nada.

- Ah, não queria ser confundida, mas lembra do rio. Gostava de te olhar enquanto estava distraído

- É?

- Nossa, está excitado!

- Claro, fica me dizendo isso.

- Foi sem querer. Posso te lavar?

- Como?

- Lavar você. Passar sabão.

- Tem certeza?

- Vem aqui, se aproxima mais

- Puta merda

depois do banho ela se arrumou inteira. Passou perfume que deixou a casa aromada. Pediu pra abotoar seu vestido. Algum tempo depois o telefone tocou. Era Firmino.

- Amanha te conto tudo. Estou amando tanto, Miltinho! Amanha se quiser vim a noite pra gente conversar. Gostei muito de nosso banho.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 15/12/2011
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