Emasculação matrimonial

Há tempos havia esquecido que o sexo existia; ou mesmo o que era sexo. De início era um “garanhão”, seu apetite sexual era quase que insaciável. “Dava” três ou quatro em uma boa noite de sexo. Quando não, masturbava-se diariamente, sempre com as mais tresloucadas fantasias sexuais com primas, vizinhas, colegas de trabalho, de faculdade.

Então, certo dia, nosso herói conheceu uma bela e sensual jovem. Foi paixão à primeira vista e o tesão que sentiu por aquela garota foi inconcebível. Fez de tudo para se aproximar dela, usou e abusou de todo seu arsenal de sedução, suas mais bem boladas cantadas, mas ela era muito difícil de ser conquistada, a “concorrência” era grande, e todos os homens que a conheciam, ou a viam, queriam tê-la. Um verdadeiro bombardeio de galanteios ela recebia, o que a deixava impaciente com os homens: “São todos uns galinhas”, dizia ela.

Mas nosso amigo não desistiu. Aos poucos ela percebeu que ele era inteligente. Que seus galanteios tinham um fino senso de humor, e que, afinal de contas, ele era sensível e bem bonitinho. Aos poucos foi cedendo, e quando notaram ambos, a paixão estava instalada entre eles.

Ah! Aqueles tempos! O início do namoro... Sexo, muito sexo, o final de semana todo de sexo. Não viam nada, nem ninguém. Naquela época ele morava só, e ela então passou a ser presença constante nos finais de semana em sua casa. Chegava na sexta-feira à noite, e então às vezes planejavam até sair para algum lugar, tomar uma cerveja com amigos, ir ao cinema ou à praia. Mas todos planos não resistiam a paixão que os tomava, e se entregavam um ao outro com sofreguidão, com volúpia, fazendo sexo de todas as formas e em todos os cômodos do pequeno apartamento em que ele morava: Sala, banheiro, cozinha, varanda, no chão, em pé, de banda, na cama e no quarto (claro). Tudo era cenário para suas entregas sensuais. Viviam nus, entrelaçados na cama, paravam de trepar apenas para se alimentar e dormir. O final de semana passava com seus corpos permanentementes sujos dos suores e secreções de um e de outro, pois o banho (que sempre era a dois) não os limpava, já que começavam a trepar ali, e depois se arrastavam para o tapete da sala, a cama, a mesa de estar, sei lá. Mas ao fim, o cheiro e as sobras de sexo os tomava de todo.

Um dia veio a grande notícia: A concepção!!! “Estou grávida!”, assustou-se ela. “Estou grávida!”, entusiasmou-se ela. “Estou grávida!”comunicou ela. “Estou fudido”, grunhiu ele.

Mas isso foi só no começo. Nosso homem tem um forte senso ético e no fundo ele é um bom caráter. Em momento algum ele pensou em interromper aquele momento mágico que sintetiza o encontro de um homem e uma mulher. Uma nova vida! Depois do susto, é claro, nada mais natural, veio a alegria, a felicidade. Ele já desconfiava que a amava e depois de vê-la com a barriguinha crescendo, o amor foi crescendo e crescendo mais e mais. Ele desistiu da vida de solteiro, das orgias, do sexo casual com estranhas e decidiu casar.

Casaram-se, o bebê veio (uma meiga e fofa menininha). Papai ficou feliz, mamãe radiante, os avós babaram de júbilo e alegria...

E o tempo foi passando, agora eles eram três, a casa sempre cheia dos barulhos de criança, os choros e risadinhas, as noites em branco, a limpeza das fraldas, os primeiros passos, o preço das fraldas e das comidinhas de neném, as primeiras palavras, a ida para escola, o material escolar, a babá, a conta de luz e telefone, as visitas indesejáveis dos sogros, a ausência dos amigos, nunca mais a ida ao cinema e ao futebol, a viagem à Europa sempre sonhada e agora para sempre distante, nunca mais cantar a vizinha gostosa do apartamento ao lado, nunca mais a mãe de sua filhinha lhe procurou para as trepadas de outrora (tô com dor de cabeça, o bebê não me deixa dormir, a mensalidade escolar venceu, etc etc e etc...)

De repente ele se perguntou: Onde está meu pênis? Ainda sou macho? O que é uma ereção? Quando me masturbei pela última vez?

E ficou louco de tesão. Tentou procurar sua mulher para treparem como antigamente, mas ela às voltas com as roupinhas de Clarinha, com as notas de Clarinha, com a escola de Clarinha. Sempre o convidando para visitarem vovô e vovó, para irem à missa, para irem ao shopping, para isso, para aquilo. Mas fuder que é bom, nada!!!

O que começou como uma agonia, o tesão que o enlouquecia, aos poucos foi sumindo de novo. Nosso Homo Sapiens Sapiens foi dando cada vez mais margem ao seu caráter social e civilizado. Tornou-se um pai de família exemplar, um assíduo freqüentador das missas do domingo, um funcionário público nota dez e um marido dos sonhos de toda mulher de bem. Seu pênis, é claro, murchou e sumiu, afundando-se entre seus testículos. Mais isso é só um detalhe pequeno e insignificante. A esposa ficou feliz, pois sua mãe estava feliz, pois Deus estava feliz, a sociedade estava feliz, a escola e o Estado estavam felizes. Além disso, é evidente, ela arrumou um amante em seu trabalho, que lhe chupava a buceta e fudia seu cu como um bicho, pois apesar de cristã, mãe e esposa modelo, ela não é de ferro.

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 26/12/2011
Reeditado em 27/12/2011
Código do texto: T3407564
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