AJUDA E TERROR

Aos trinta e seis anos de idade eu julgava já ter vivido de tudo nessa vida. Saí muito cedo de casa e morando sozinho tive que fazer e passar por muitas para sobreviver. Medo, definitivamente não existia em meu dicionário. Sempre fui muito cético com as coisas que  dizem respeito ao sobrenatural. Na verdade na região em que moro medo mesmo tem que se ter é do que é vivo e natural.
Há dois anos arrumei um emprego que melhorou consideravelmente a minha renda mensal. A única coisa que se pode reclamar desse trabalho é o fato de ter que viajar semanalmente para fazer entregas à noite, sozinho e por rodovias em que se percorre até duzentos quilômetros sem ver uma só casa ou vivente.
Bem, a reclamação era apenas pela solidão, pois como eu já disse, medo mesmo era só de malfasejos. Mas, passei a pensar diferente há uns trita dias quando numa entrega tive que viajar à noite. Não era tão tarde ainda – umas 23:00 horas, quando me surpreendi com uma mulher em desepero às margens da rodovia. A sua aparência inspirava confinaça: já madura, bem vestida e bonita, mostrava nitidamente o seu desepero para que eu parasse. Achei que não haveria problemas em parar e pelo menos perguntar do que se tratava.
Ela, desesperadamente, me contou que tinha sido assaltada, que o seu carro foi levado por uma estrada de terra e que seu filho de dez anos estava agonizando, vítima de um balaço. Ela me pediu por tudo que era sagrado para que eu ajudasse ao seu filho.
Não pensei muito. Pedi pra que ela entrasse no carro e segui pela estrada estreita e cheia de buracos que ela ia me indicando por onde passar a cada encruzilhada. Não muito longe,a uns oito kilômetros da rodovia ela me pediu que parasse e pude ver, dentro da mata rala, o seu carro. Eu corri por entre os gravetos e abri a porta - do lado do passageiro - e uma criança, sangrando muito agonizava. Era muito escuro, mas percebi que ele estava vivo. O peguei pelos braços e depressa o levei até o carro que eu estava viajando. Procurei a mulher e não a encontrando comecei a gritar, chamando-a desesperado, para que pudéssemos prestar o socorro ao seu filho:

- Senhora!, Senhora! Onde você está?...

Peguei um farolete e fui correndo até o carro. No lado da porta do motorista vi um corpo ensanguentado e caído ao chão. Já cheirava mal e percebi que havia perfurações de balas em várias partes, inclusive na cabeça. Após virar o corpo que estava de bruço, o foquei com o farolete por inteiro e quase cai com o que vi. Aquele cadáver era da mulher que me guiou até ali. Ela havia morrido há várias horas.
Damísio Mangueira
Enviado por Damísio Mangueira em 30/12/2011
Reeditado em 04/01/2012
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