O jovem que venceu as drogas por meio da fé

Heitor, como diziam, era um caso perdido. Nascido em família de classe média alta, nunca conheceu a privação, nunca precisou trabalhar para suprir suas necessidades e nunca deixou de ter seus desejos atendidos.

Apenas estudava, ou melhor, enrolava. Era aluno de um colégio religioso, o mais tradicional de Belém. Sua turma era frequentada pelas "melhores" famílias, boa parte de seus colegas eram filhos de deputados, senadores, juízes, diplomatas entre outros.

Melhor teria sido que o jovem sofresse pequenas frustrações e mesmo alguns insucessos do que ter sido escravizado pelas drogas aos 16 anos... Um simples ato de experimentar, por curiosidade, fez dele uma outra pessoa.

Os colegas que já usavam, conseguiram viciá-lo também. E assim, os dias foram passando e Heitor se afundando...

A família do rapaz tentou de tudo: viagens por todo o mundo para tentar afastá-lo do vício, esportes radicais de que Heitor gostava, clínicas especializadas... Nada surtiu efeito.

Heitor, realmente, era outra pessoa. Já não era mais o antigo jovem amigo, sereno e divertido, que gostava de colecionar HQ de seus heróis favoritos e de se vestir como um deles quando havia estreia no cinema. Ele adorava ver os ídolos passarem dos quadrinhos para a telona... Pobre Heitor, refém do seu vício, se tornou agressivo, ansioso, impaciente... A droga era o sentido da vida dele.

Até que um dia, Felipe, seu amigo de infância que visitava Belém por ocasião do Natal, soube da triste situação. Inconformado, imediatamente tomou um táxi com o intuito de rever o amigo.

Assustou-se ao ser recebido pela mãe de Heitor. Ela chorava compulsivamente, estava muito abalada. Ao ver Felipe, Glória o abraçou e disse: " Me ajude!". Enquanto isso, os gritos de César, pai do rapaz, ecoavam pela casa: " O Heitor é um caso perdido!"

Felipe orava em silêncio, rogando a Deus que os anjos o acompanhassem, que o Espírito Santo o conduzisse e que o amor de Jesus tocasse o coração do antigo amigo.

Ao entrar no quarto, Felipe percebeu que Heitor preparava uma mistura para injetar na veia. O jovem viciado se surpreendeu com uma mão a tocar seu ombro. Ao rever o amigo, Heitor, por um momento, parecia ter voltado a ser o que era...

Havia 6 anos que eles não se viam. Cresceram juntos, pois seus pais eram vizinhos. Tinham a mesma idade, com diferença de apenas 3 meses (Heitor fazia aniversário em 15 de março, Felipe, em 15 de junho). Eram como irmãos e sempre brincavam juntos. Estudaram na mesma escola e ambos colecionavam quadrinhos do Homem Aranha, Batman, Calvin e Haroldo etc. Adoravam andar de skate e, toda tarde, se reuniam com a turma do bairro, com quem formavam a “galera do skate,”de que Heitor era o líder. Foram os anos mais fantásticos da vida de Heitor. Até que, por motivo de trabalho, o pai de Felipe precisou se mudar para Brasília e toda sua família foi transferida para lá. Heitor ficou muito triste, pois era filho único e sentiu falta de seu amigo-irmão. Naquele momento, todas as coisas boas passavam como um filme na mente daquele viciado.

Mas aquela sensação foi passageira e logo voltou o desejo pela droga. E para piorar, a ofereceu a Felipe. Rejeitando a oferta, Felipe tomou a seringa da mão do amigo, a quebrou e falou abertamente:

“O que fizeste da tua vida e dos teus sonhos? Logo tu, que apreciavas tanto a liberdade, foste ser escravo de um pó abominável! Não foi a tua curiosidade que te levou à ruína, mas sim a tua falta de discernimento. Até tua moral está débil, te fizeste um fraco. Mas Deus pode te levantar, pois é na nossa fraqueza que o poder Dele se manifesta e se aperfeiçoa em nós. Meu amigo, não te iludas pensando que a droga te faz mais inteligente ou seguro de si. Ela contamina a tua mente e te faz um eterno dependente. Se queres sabedoria, paz, aceitação, abandona as drogas e entrega o teu caminho ao Senhor".

Heitor ouvia calado. Não dava ouvidos a ninguém, mas a Felipe ouviu atentamente. No início, sentiu vontade de bater nele por ter quebrado a seringa. Mas seu coração acolhia a esperança de sair da escravidão.

Heitor disse: " Meus pais tentaram de tudo... Mas eu não consigo". Felipe respondeu: " Se realmente quiseres mudar, faça o que é possível e, o impossível, confie a Deus. Eu vim a Belém para ajudar num projeto que atua no lixão do Aurá. Amanhã, meu pai vai virar Papai Noel e distribuir brinquedos para os filhos dos catadores. Há muitas famílias lá e nós precisamos de voluntários e de doações. Em vez de comprares drogas, compra uma cesta de natal para doar ou mesmo um brinquedo. Vá conosco, é sempre bom ajudar a quem precisa".

Heitor, chorando, abraçou o amigo. Felipe o convidou para almoçar na casa de seus tios, porque toda a sua família queria rever o líder da "galera do skate".

Os dois saíram, relembraram os heróis de que eram fãs, passaram pelos lugares onde costumavam andar de skate e compraram uma caixa de chocolate para comer no caminho.

Foram recebidos com festa e todos acolheram Heitor amorosamente. José, pai de Felipe, conversou muito com Heitor, gostava dele como de um filho.

O almoço foi maravilhoso e a mudança de Heitor, mais ainda! Ele sentiu-se bem na presença daquela família unida, amorosa e cheia de fé. Marta, mãe de Felipe, leu trechos bíblicos para fortalecer o rapaz, que há tempos, não lia um versículo sequer.

Aquele 23 de dezembro foi o início do milagre. Ao voltar para casa, Heitor estava sereno e decidiu dialogar com os pais. O diálogo só terminou à noitinha. O pai pediu perdão pelas duras palavras, o filho reconheceu os erros e se arrependeu e a mãe pediu que nunca mais aquilo acontecesse. Todos oraram juntos e depois foram dormir.

Na manhã do dia 24, Heitor estava bem cedinho na casa dos tios de Felipe. Ele levava consigo 3 cestas básicas e uma grande sacola repleta de brinquedos. Todos ficaram felizes ao ver o rapaz, principalmente, porque sabiam que, estando ali, ele não usaria droga.

Heitor ajudou José e Felipe na organização de todas as cestas básicas. Então, colocaram as cestas e os brinquedos na van e partiram rumo ao lixão do Aurá. No caminho, Heitor percebeu que outras vans faziam o mesmo trajeto. Ao perguntar a respeito disso, José lhe informou que eram pessoas que faziam parte do projeto. Heitor quis saber mais... estava gostando daquela ideia. “ Depois eu te conto tudo.”, disse Felipe.

Chegando lá, Heitor ficou impressionado com o número de pessoas que viviam ali. Ao ver criancinhas brincando alegre e inocentemente, entre montanhas de lixo, onde o mal cheiro e a presença constante de urubus tornavam aquele local insuportável, Heitor sofreu o maior impacto de sua vida. Percebeu, então, que mesmo em meio à tanta desgraça humana, aqueles pequeninos tinham esperança e acreditavam na vida.

Quando todas as vans chegaram, a equipe do projeto deu início à comemoração do Natal de Esperança. A equipe se dividiu para organizar o atendimento à comunidade local. Havia muitas atividades programadas: mutirão da saúde, emissão de documentos, palestras, minicursos de qualificação profissional etc.

Foi uma manhã muito agitada e cheia de calor humano. Tantos olhos sedentos de carinho, tantas vidas sedentas de esperança, tantas almas sedentas de amor... Aquele evento marcou profundamente o coração de Heitor, que buscava ser útil em tudo o que fazia.

Ao fim da prestação de serviços, a ceia foi servida. Foi uma grande festa! Aquela era a primeira ceia de Natal para muitas pessoas daquele lugar. Muitas choravam e não paravam de agradecer a Deus por aquele milagre.

Então, quando os catadores imaginavam que tudo tinha terminado, foram surpreendidos com a visita do Papai Noel, que distribuiu cestas básicas para cada família e presenteou todas as criancinhas. Nesse momento, todos estavam chorando, até o Papai Noel. O encerramento foi às 18h.

Que dia gratificante! Heitor estava maravilhado com aquele projeto. Felipe e José sentiram que aquela experiência mudaria definitivamente a vida do rapaz. Assim, no caminho de volta para casa, Felipe falou mais sobre o projeto: “Aquela equipe é formada por voluntários, que por seus próprios esforços, mobilizaram pessoas e recursos para realizar as atividades. Fizeram parcerias com instituições governamentais e não governamentais, realizaram gincanas para arrecadar brinquedos, venderam rifas para comprar as cestas básicas, organizaram uma caixinha solidária para ter dinheiro suficiente para cobrir despesas eventuais. Todos contribuíram com o que foi possível. O projeto não tem fins lucrativos, mas solidários. Precisamos de mais voluntários, porque desejamos que estas atividades possam ocorrer de forma constante, ao longo do ano. O nosso objetivo é levar qualidade de vida e oportunidade de emprego e renda para aquelas pessoas”. E a resposta foi imediata: “Contem comigo!”, disse Heitor.

Ao chegar em casa, Heitor contou para seus pais tudo o que havia se passado. César e Glória também decidiram ser voluntários do projeto. E aquele sentimento de solidariedade e amor consolidou os laços daquela família. Feliz com a decisão dos pais, Heitor telefonou para Felipe, informando a Boa Nova e convidou a família do amigo para a passar o Natal em sua casa e relembrar o tempo em que eram vizinhos.

Naquele Natal, junto da família e dos amigos, Heitor nasceu para uma nova vida. Sua fé ressurgiu e o fez abandonar o vício. Jesus renasceu em seu coração, mostrando ao rapaz o verdadeiro sentido do Natal.

O novo ano trará muitas esperanças, mas também, muitos desafios: 2012 está à espera do instrutor da turma de skate do projeto... Sim, Heitor já encontrou um modo de ajudar. Agora, longe do vício e fortalecido pela fé, Heitor está preparado para tudo o que vier!

Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP)
Enviado por Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP) em 31/12/2011
Reeditado em 04/01/2012
Código do texto: T3415402
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