O Primeiro Dia do Ano do Dragão.

O primeiro dia do ano me veio com um primeiro gole amistoso de cerveja gelada, Peter, Paul and Mary tocando suavemente meus ouvidos e sentidos, além de uma costelinha assando com o pouco de carvão restante do ano passado. Supremo! Manhã plácida, as pessoas curando a bebedeira da virada, e eu aqui, de bem com a vida, liberto de tudo que é do ano passado, tirando os números e o ideário popular, o ano do dragão para os chineses, o ano da mudança para a maioria, assim como todos os princípios de anos, já que o que muda mesmo não é o tempo, cíclico, mas os homens, seres vivos e seus “modus vivendi”, que vão se transformando evolutivamente, creio eu.

Lá em cima, sobre o mundo vasto, pairam Deus e nuvens cinza, carregando águas de janeiro, por sua vez geradora de transtornos e tragédias, além de algumas alegrias, obviamente.

Cá embaixo sobram restos de festas e um pedaço do ano que se foi na memória de cada ser humano que racionalmente pisa este globo terreno.

Acontece que por um tempo, o qual não se pôde avaliar, um brilho pairou sobre a terra, a internet parou de funcionar, cortaram as angústias, cessaram as fomes nos quatro cantos do planeta, as pessoas se entreoalharam uns para os outros sem as entranhas putrefatas de mesquinharias várias, fingimentos e maledicências, árvores frutíferas brotaram em terrenos outrora inférteis, chuvas deixaramm de ser ácidas, comunicações independes de gritos, lágrimas, lamúrias e sonoridades vulgares, Deus irrompendo de um brilho solar, sussurrando nas mentes de todos os mortais, os quais, a partir de então, dexando prevalecer a absoluta, justa e irrestrita liberdade e felicidade, e a morte, inerente a TODOS, não passando de um ciclo natural das coisas...

“MATARAM A MALDADE!” – sonhou uma criança de doze anos, ao abrir os olhos pela primeira vez num novo tempo.

“EXTIRPARAM O TERROR!” – vibrou de alegria um freqüentador de um vilarejo nos arredores de Tikrit, Iraque.

“NÃO TEMO MAIS!” – pensou repentinamente em sua cama um estagiário de uma financeira em São Paulo, Brasil.

“MINHA AVÓ ESTÁ ANDANDO!” – disse uma menininha de seis anos para sua mãe, ao levantar da cama e ver a avó cultivando as hortaliças do quintal.

Por um tempo pensou se ouvir Joan Baez interpretando “Blowin’in the Wind”, de Bob Dylan, cujo som dava a impressão que era trazido pelos pássaros ao vento, que flutuavam.

E um sopro de felicidade jorrou sobre a humanidade, uma felicidade lúcida, racional, quase socrática, impingindo a todos um brilho nos olhares e transparência nos relacionamentos. Todos partiram para o amor ao próximo, sem ressentimentos, se arrepiando mutuamente, “loucos” de sortilégios e prazeres internos infindáveis...

Neste ínterim, Deus sorriu e fez com que todos esquecessem, esquecessem... sendo o esquecimento uma de suas dádivas, e partiu em alta velocidade, em seu "ônibus espacial azul, através de um clarão aberto no espaço sideral...

E Dylan continuou a entoar seus cânticos sagrados...

SAvok OnAitsirk, 01.01.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 01/01/2012
Reeditado em 01/01/2012
Código do texto: T3416751
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