Biografia

Olhei fixamente seus lábios e, então, ele repetiu aqueles sons engraçados. O que significavam?

- Pa...pai!

Toda vez que ele me via, repetia aqueles sons. Pensei que, talvez, ele desejasse que eu os reproduzisse também. Para que serviam, não sei. Mas, ele repetia tanto eles, que certamente deviam ser importantes ou, talvez, faziam parte de uma brincadeira. Tentei.

-Pa...

Ele me olhou espantado, demonstrando uma enorme alegria. Seja o que for que significassem aqueles sons, eles produziam contentamento em meu pai.

- Querida, ele está falando! Ele está falando!

Não compreendia aqueles outros sons. Só sei que estava falando com minha mãe.

Um bebê é como um estrangeiro, tem que aprender nova língua, novos costumes e, infelizmente, alguns vícios também.

- Pa...pai! - Repetiu ele.

Tentei novamente. Aquilo estava engraçado, seja lá o que significava.

-Pa...

-Pa, não! Pa...pai!

Êpa! Peraí, onde foi que errei?! Ah, será a quantidade de sons?! Vamos ver...

-Pa...pa...pa!

-Não! Pa...pai!

Onde estou errando? Ele está sendo muito exigente. Aquilo começou a ficar chato. Comecei a me irritar e, inevitavelmente, chorei.

- Ah, querido, não exagere! Deixe ele em paz! - Disse minha mãe.

O meu pai era engraçado. Aliás, todos os adultos o são. Eu achava tudo divertido, mas um pouco tolo.

Depois que meu pai me deixou sozinho, comecei a pensar naqueles sons.

O que significavam? Será que era mais uma palhaçada dos adultos? Eles são incoerentes, variáveis. Não sei porque eles não estavam sempre sorrindo. Por que eles mudavam tanto?

E, era incrível como eles mudavam quando apareciam pessoas estranhas. Às vezes, tinha dificuldade de reconhecer meus pais. Estranhava.

Quem eles eram realmente? Sempre acreditei, firmemente, que eles eram aqueles que faziam sons e brincavam comigo.

Por que eles eram tão esquisitos, tão mutantes?

Havia cansado de pensar. Estava precisando de companhia. E, se eu produzisse aqueles sons que meu pai parecia gostar tanto, será que ele virá aqui?

-Pa...pa...pa!

Fiquei surpreso como ele apareceu tão rápido. Seus olhos eram pura felicidade.

Isso o faz feliz, que engraçado! Por que será? Não importa, se o faz feliz, então, é importante para ele.

-Pa...pa...pa...

Hideraldo Montenegro
Enviado por Hideraldo Montenegro em 10/01/2007
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