O Amante

O andar lento, cuidadoso faz parte da minha natureza. Sei que sou charmoso nesta minha leveza e altivez.

Alguns me detestam por conta disto, outros têm respeito e medo pelo mistério do meu ser. Sou seguro e manhoso. Sei conquistar. Chego devagarzinho, mas sou efetivo em meus objetivos.

Talvez, a coisa mais surpreendente em mim seja os meus olhos. Eles são hipnóticos, fortes, claros. Quando quero alguma coisa sou persistente e meus olhos se transformam em armas. Ninguém consegue escapar dos seus brilhos. Se bobear serão presas fáceis.

Também sou meio farsante. Às vezes fico quieto, como quem nada quer. De repente, ataco aquilo que estou pretendendo ter. Uma vez em minhas garras, não há mais jeito.

Foi num dia ensolarado, que não me oferecia outra alternativa senão permanecer em meu passatempo predileto, ficar deitado pensando, que ela apareceu.

Ela me olhou de soslaio, como não quisesse demonstrar que me havia notado e passou por mim fingindo me ignorar. Era puro charme.

Mas, aquele seu cheiro me subiu à cabeça e me perturbou. A posição em que me encontrava, naquele instante, era confortável, mas fui obrigado a me desfazer dela. Dei uma espreguiçada, fingindo também não está nem aí com a sua presença.

Dei uma volta no ambiente para esticar as pernas e, enfim, lancei o meu olhar em sua direção. Quando ela percebeu ficou sem saber como agir. Eram claras as suas intenções também.

Fui me aproximando devagar, mas firme. Ela fingia decidir para onde, supostamente, estaria indo e, quando se deu conta, já estava ao seu lado.

Dei uma volta em torno dela e, então, ela já sabia que era inevitável. Estava em minhas garras. Seu cheiro despertava desejos incontroláveis.

Fizemos amor ali mesmo, pois, quando dois gatos estão no cio não ficam com desculpas, com etiquetas.

Quem não gostou muito foi a minha dona. Até hoje sinto a dor da vassourada em minhas costas.

Hideraldo Montenegro
Enviado por Hideraldo Montenegro em 10/01/2007
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