UM RACHA NA MADRUGADA

Uma garoa fina caia sobre Curitiba naquela madrugada de sábado, final de dezembro. Dentro do carro, completamente apavorado, o jovem Willian já começava dar toda a razão à sua velha mãe. Ela suplicara ao filho que não saísse com aqueles amigos. Ela sabia que nos finais de semana eles exageravam no uso de bebidas alcoólicas.

Lembrou inclusive da bronca que deu em sua mãe: “A senhora não vê que já não sou mais uma criança? Esqueceu que já tenho vinte anos? Ora mãe, a senhora conhece esse pessoal desde criança. Lariquinha, Hamilton e o Turco Louco, são todos aqui do bairro, são meus amigos e vou sair com eles sim!”

...Lembrou do triste olhar e da bênção da mãe quando ele saia: “ Deus te acompanhe meu filho!”

Três horas da manhã, foi quando Hamilton largou o volante e aplaudiu rápido, quando avistou um outro automóvel parecido com o seu. “Quero ver se o carro daquele maluco tomou veneno.”

Num próximo semáforo, Hamilton emparelhou junto ao outro veículo, e com curtas aceleradas, provocou o condutor do outro carro para um racha.

Exceto Willian, os outros dois amigos vibraram com a possibilidade de uma disputa de automóveis. No outro carro, cheio de garotas, a euforia não foi menor. Turco Louco, tomando também mais um gole, gritou alucinado para seu amigo no volante:

— Isso aí, brother! Mostra para esse panaca que canudo não é só pra injeção na veia. Manda bala! Mostra o veneno desta carreta!

Arracaram à toda. Willian apesar de não ter tomado nenhuma gota de bebida, sentiu sua bexiga estourar. Sabia porém, que qualquer demonstração de fraqueza nessa hora era ter assegurado um futuro com a marca de bundão pela vizinhança toda. Nesse momento, tinha de ser durão e respeitar a vontade maluca de seus amigos. Mesmo contra-gosto, a opção válida, era entrar naquele jogo suicida. Olhou no velocímetro do carro, Hamilton estava a cento e trinta por hora. Os dois carros ultrapassaram os últimos três semáforos com farol vermelho. Willian rezou para passar uma viatura do trânsito, para que essa aventura não tivesse um triste final. O anjo da guarda de Willian estava de plantão. Duas transversais adiante uma viatura com o pisca-pisca no teto, cruzou calmamente a avenida fazendo com que ambos os carros, produzissem os sons característicos de uma rápida ação do serviço de frenagem.

Dentro da cela da delegacia, Willian mantinha um largo sorriso. Dias depois, sua frieza na frente das autoridades foi alvo de comentários em toda a vizinhança. Levou sorte até por ser o último a ficar com o litro de uísque no colo, assim, a calça molhada, ficou por conta da bebida na hora da freada.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 13/01/2007
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