Rumo à Liberdade.

Saí cedo de casa na caça de alimento para alma...

Fui ao mercado do centro velho, a perscrutar, na ânsia de encontrar alguma “velharia”...

Por onde passei vi escombros, ruínas e restos de uma civilização antropomórfica, outrora profícua...

Onde havia homens pensando, vê-se um amontoado de homens e mulheres desnudos, visivelmente entorpecidos, se esfregando mutuamente...

Onde se ouvia cânticos sagrados ouve-se ruídos eletrônicos e batuques desconexos...

Onde um poeta entoava seus versos, vêem-se homenzarrões berrando a violência e a vulgaridade, rodeados por adolescentes drogadas e prostituídas...

Num tempo em que se eclodiam boas obras, vêem-se apenas compêndios, resumos e listas do que já era...

A criatividade perdeu a estribeira dentro da esteira virtual...

Tudo junto e misturado dentro da simbiose besta dos sugestionáveis por opção, as pessoas se transformam a cada segundo aprisionados em sistemas de computador, e suas primeiras impressões não são suas idéias ou seu olhar, seu aperto de mão, mas o que consta em seus perfis sociais virtuais...

Na Ladeira Porto Geral ouço (ou tive a impressão?) o estalido de um chicote no couro de um pangaré decrépito...

Vi ainda (talvez em imaginação ou em outros tempos) que seu lombo arqueava toda vez que recebia a chibatada, momento em que bufava fundo com olhos de dor...

O vento de sua bufada, em seguida à sua última chibatada antes de cair morto de cansaço, fez elevar ao vento os louros cabelos de uma adolescente mimada, que navegava na internet em seu “IPod”, enquanto esperava para atravessar a rua, e que, irritadíssima, caiu aos prantos de nervosismo, sendo em seqüência acalentada pela sua mamãe, que disse:

“Calma filha, vamos ao Shopping Light lavar...”

Ao se aproximar do Sebo do Messias, na Praça Ramos, vi que não haviam mais livros velhos para vender, mas eletroeletrônicos dos mais variados, mesmo os obsoletos, desde controles-remoto, mp3, mp4, mp5, mp6..., até pendrive’s’, filmadoras tek pix e até alguns (pasmem!) vídeos-cassete jogados em caixas sobre caixas...

Fiquei triste e parti para a Liberdade, a Avenida Liberdade, logo ali na quebrada do sebo, onde algumas senhoras fazem ponto dia e noite, dividindo espaço com os trabalhadores que zanzam feito formigas, mas que não deixam de dar uma olhadela nos rabos e peitos delas...

Por um impulso quis retornar e ver se os Bolivianos ainda cantavam nas proximidades da XV de Novembro, no Largo (agora não me recordo o nome) aos pés da Torre símbolo de São Paulo, antigo prédio do extinto Banespa, mas desisti, com receio talvez de não encontrá-los e ao invés disso me frustrar...

Segui a Liberdade, onde as livrarias não vendiam mais aquelas coleções dos clássicos da literatura, que tanto fizeram minha mente, mas vendiam produtos eletrônicos aos montes. A Liberdade estava lotada demais. As Calçadas quase que intransitáveis, as ruas paralisadas pelo trânsito caótico, e a feira dos japoneses, no Largo do Metrô, parecendo mais um caldeirão escaldante abarrotado de formigas saltitantes...

Desisti...

Entrei no primeiro buraco de metrô, destino: Terminal Rodoviário Tietê, e rumei de volta para casa...

Quinhentos quilômetros pela frente...

Precisava ver o Rio Grande e tomar um cerveja gelada...

SAvok OnAitsirk, 31.01.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 01/02/2012
Código do texto: T3474528
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