UM CÃO NA RUA DA PRAIA

A rua escaldante borbulhava em sua simetria alongada e vasta. Entre passantes e vendedores anônimos ouvia-se um estardalhaço de gritos e uma balbúrdia incontrolável, quase asfixiante.

Eram horas de calor intenso, de gorjeio de pássaros na praça da alfândega e pombos roliços à procura de alimentos, que se envolviam no calor da chusma e de olhares introspectivos que rondavam a simetria da rua completamente tomada pelo árido calor.

O tempo parecia congelado, parado, estático. Meus olhos passeavam em quanto acomodava-me no banco da praça. Na praça da alfândega. Artistas pintavam seus quadros com leveza e sutilidade, outros cantavam, outros exerciam seus dotes artísticos iluminados pela criação divina.

O termômetro marcava quarenta graus, a floresta de pedra exalava arte, exalava cultura, música, poesia. Atores e atrizes anônimos que faziam do palco da vida um espetáculo incomparável e admirável, sem receber por isso, nenhum centavo.

Já eram aproximadamente dezessete horas e nada do calor cessar. A cidade borbulhante palpitava como uma linda mulher, pronta para ser amada. Chegara então a hora do regresso. Um cão desalinhado e desajeitado vinha em passos lentos se desvencilhando entre a multidão entre a multidão divergente, um cão de pelos ralos, brancos com manchas pretas, um exímio cão vira-lata olhava para as pessoas como a procurar alguém, passou frente ao banco da praça, da praça da alfândega. Onde estava eu sentado. Olhou-me. Apressou-se e foi sumindo entre a chusma repleta, com suaves pausas para a tradicional coçada nas pulgas.

Eu fiquei a olhá-lo, imaginando as desilusões que ele carregava. Seu destino, sua missão, sua agônia, seu sofrimento, sua felicidade e até mesmo seu talento. Sentado no banco da praça, na praça da alfândega. Eu imaginava.

* Rua da praia:"Praça da alfândega" rua dos Andradas,centro de Porto Alegre/RS.

Castro Antares
Enviado por Castro Antares em 16/02/2012
Reeditado em 17/02/2012
Código do texto: T3503322
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