Erijah e a Terra Nova

Erijah era um homem austero, de pele parda, rosto fino, com marcas bem definidas de sua idade. Vivia perdido em suas lembranças, perdido em um passado distante, passado de outras terras, terras verdes com grandes florestas e rios, onde o vento soprava do oeste, trazendo o doce cheiro das altas montanhas.

Sua vila, na costa de um grande lago, fora outrora, um lugar deslumbrante, repleto de arvores e pássaros que ao amanhecer estavam sempre dispostos a cantar. Onde dia era tranqüilo, pessoas andavam de um lado para outro ininterruptamente, barcos atracavam no porto algumas vezes ao dia, trazendo peixes e mercadoria do outro lado do lago. As mulheres cedo levantavam e junto com o cacarejar dos galos, se encaminhavam à margem para lavar as roupas. Os homens mas com o tempo toda aquela beleza natural foi sendo destruída, tendo se transformado em um vasto deserto. Com vales secos e tão profundos que nem o sol se atrevia a tocar, onde só os mais adaptados a viver com pouca água conseguiam sobreviver. Planícies onde reinavam os carniceiros, que se sustentavam a base de jovens e inexperientes aventureiros que encontravam seu fim em meio aquele mar de areia.

Em seu devaneio se viu viajando por essa terra dita amaldiçoada. Lutando com seus problemas familiares, que o levaram em busca de um futuro melhor. Atravessou imensos vales onde nenhuma água passava, montanhas onde não se podia ver o cume, planícies extensas onde se via só a areia.

Anos se passaram, vivendo em profundas cavernas onde o Sol não o alcançava. Alimentava-se de algumas poucas plantas quase mortas que encontrava pelo seu caminho, e, às vezes, de algum carniceiro que conseguia pegar. Sentia-se sozinho, caminhando no escuro, perdido na solidão. Já sentia o gosto de morte em sua garganta quando, quando, do alto de uma montanha, avistou o que perseguiu por tantos anos. A alegria tomou novamente conta de seu devastado coração. O sangue ferveu por todo seu corpo, mas desta vez, não por causa do extremo calor. Havia se deparado com terra que tanto buscou. Uma terra virgem, de lugares nunca antes tocados por mãos humanas.

Lá decidiu viver e com o passar do tempo, movidos pela mesma esperança que ele teve um dia, chegaram mais homens e mulheres. Assim começou um novo tempo de paz e felicidade para si mesmo e para todo seu povo.

Voltando de seus pensamentos, levantou vagarosamente e se dirigiu a janela que estava a poucos metros de distância e, ao olhar através dela, se deparou novamente com aquele mar de areias mortais novamente a sua volta. Sentindo o nojo dessa terra, procurou culpar uma suposta maldição, sem perceber a verdadeira razão de toda essa devastação.

- Todos esses anos lutei por minha própria gente – ecoou aquela voz rouca pela casa – lutei por um lugar melhor para que todo meu povo pudesse viver alegre novamente sem passar fome, e o que recebo? Apenas destruição do lugar onde demorei anos para encontrar, lugar que nunca mais se recuperará. Por que essa maldição tanto nos atormenta?

Então uma voz calma, que parecia vir de muito longe, mas não deixava de ser clara em suas palavras:

- Vocês são suas próprias maldições.

Ao ouvir essa pequena frase, abaixou sua cabeça, onde toda sua vida passou diante de seus olhos, quando um pequeno sorriso começava a formar-se uma lágrima foi mais rápida e escorregou por sua face até atingir a ponta de seu queixo e cair suavemente sobre o chão. “Bonita foi a vida desta lágrima” pensou Erijah antes de cair ao lado do que não tinha evaporado daquela amarga e pura lágrima.