Capítulo 1 – Encontros

Nunca fui daqueles muito de festa, porém, sabe-se lá porque, talvez pelo tanto que eles me incomodavam, naquele dia aceitei o convite dos amigos, e assim, fui, finalmente, depois de muito custo, levado a uma conhecida danceteria não muito longe.

Eu. Vivia minha vida, sem maiores incômodos, é claro que, sempre temos problemas, mas os meus eram aqueles poucos, digamos, de adolescentes. A vida ia bem, segundo ano do ensino médio, alguns bons amigos, não poderia querer algo muito melhor. Morava com minha mãe e meu irmão, sem esquecer o cachorro, que era parte da família, sem dúvida. Embora fossem separados, meu pai e minha mãe, ele nunca estava muito longe. O bairro era tranqüilo, só casas. Certos casos se passaram pelo bairro, mas isso não é importante, não agora. A casa era bonita, azul, janelas brancas, terreno comprido. Lá atrás tínhamos uma laranjeira, um limoeiro, uma goiabeira e outras plantas, como a conhecida pimenta de cheiro, com seu gosto singular, porém só encontrada pelo nordeste. A maioria do pessoal do bairro morava ali há anos, e quase todos se conheciam, o que era interessante, já que ao sairmos na rua, sempre víamos dois ou mais para cumprimentar. Resumindo, um ótimo lugar para se viver.

Na escola, eu, não era muito popular, mas também não me interessava muito por isso, vivia no meu canto, com minhas coisas e meus livros enormes, todos de longas histórias de cavaleiros e suas aventuras pela fantasia da mente. Sempre tive certa facilidade a mais nos estudos, não entendo porque, pois nunca parava em casa para estudar. Acho que era por prestar a atenção naquilo que os professores diziam, talvez. Em todo o meu tempo, até agora, na escola, houve alguns desentendimentos com certos professores, mas nunca fora nada grave, fora algumas intrigas criadas por colegas. Não me metia em problema de ninguém, até que o mesmo me afetasse. Por ora era isso.

Enquanto nos aproximávamos da tal boate, já era possível visualizar o desenho de pirâmide, com suas duas esfinges ladeando-a. A fila se entendia calçada a fora. Tínhamos um contato lá, por isso entramos em poucos minutos, o que causava certa indignação pelos que continuavam na fila, mas nos fazia rir, já que não éramos nós ali parados em pé, já a algum bom tempo. Tinha uma porta imponente, o tal lugar e adentrando a pirâmide, víamos como era grande, maior do que aparentava, posso dizer. A pista de dança era no meio do salão, e estava abarrotada de gente, enquanto a música rolava solta a todo o volume. Maravilha. No outro lado do salão estava o bar, com sua larga bancada, onde o povo se espremia para conseguir uma bebida, e era pra lá que eu estava indo. Meus amigos, que comigo vieram, logo se perderam em meio à pista de dança, e só os vi de novo um bom tempo depois. Passando em meio ao povo dançando, consegui chegar ao outro lado, e como merecido prêmio, me sentei em um dos bancos da bancada do bar. Logo veio o barman, com sua característica roupa branca e avental preto, e mesmo estando visivelmente atordoado com tanta gente, conseguiu me enxergar próximo a o canto da bancada. Chegou a minha frente e perguntou se queria cerveja. Mesmo aparentando ter menos de 18, não achei lá tão estranho a pergunta, mas percebi que minha cabeça não estava nas melhores condições e não seria muito confortável. Então, pedi-lhe um copo daqueles que servem uísque, e pedi que colocasse bastante gelo e Coca-Cola, pelo menos, a olhos despercebidos, parecia que eu estava bebendo algo forte, não sendo, então, esnobado.

Na sociedade atual jovem, parece ser sinal de “status” o beber bebidas alcoólicas e ingerir qualquer tipo de droga. Em muitos grupos, você só é aceito, se pratica tais atos ou se veste de tal forma. Normalmente no ensino médio e antes até, vemos jovens que se fecham em seus grupos e dificilmente aceitam outros a se juntarem, a não ser que este prove ser digno de tal, como desafiando professores ou causando danos a escola, ou seja lá o que for. Isso normalmente é o “ser legal” dos jovens. Por isso acho que não fui muito popular, por sempre concordar com os professores, ou quase sempre, e nunca me meter em assuntos que não me dizem respeito.

Voltando ao bar, o copo e eu parecíamos estar conversando, meu olhar era fixo nele, e, de vez em quando, olhava para trás espiando as pessoas que passavam pelo salão. Logo, uma inusitada cena, pelo menos a meu ver acontece: ao meu lado aparece uma menina, ou mulher, pois já que o homem ocupa uma boa parte do seu tempo com elas, sabe que elas, nessa fase, aparentam muito mais do que sua idade, passando-se muitas vezes por maior de idade. Ao olhar pra ela, deduzi que deveria ter por minha idade, o que me chamou um pouco a atenção, mas já tendo em consciência que não sou bom nessas situações, permaneci calado.

Ela senta no banco ao meu lado, não vi nada de mais, já que a maioria dos outros estavam ocupados. Chama o barman, que não tarda em atendê-la. Pede uma Coca, para meu espanto. Observo ele ir até o freezer e tirar de lá a Coca ainda incrustada com gelo. Abre a lata e serve o copo, colocando ambos sobre o balcão. Ela pega o copo, levantando-o até a nuca, com certeza refrescando-se. Eu levando meu copo e o aproximo dela, e ela, entendo o ato, levando o seu na mesma direção, e logo soa o tilintar dos copos, coisa que ouvimos em todo o santo Ano Novo, um brinde. Ela logo pergunta:

- Um brinde ao que?

- Hm, um brinde duas pessoas sentadas nesse bar, bebendo Coca.

Ela riu, levemente. Bebemos.

- Então, - puxa ela assunto – Porque que tu não ta dançando?

- É, não levo muito jeito na coisa, pra falar a verdade, não sei dançar e ainda não tenho nenhum bom motivo pra estar lá. Resumindo, problemas.

- Haha, - ri ela – Que bobagem.

- E tu, porque não ta lá dançando também? – Pergunto eu pra não sair mal na história.

- Ah, é que... – pensa ela, constrangida – Problemas.

- É, provavelmente problemas amorosos.

- E como que tu sabe disso?

- Bom, uma jovem, excepcionalmente linda, bem arrumada, sentada nesse bar, tomando Coca-Cola e conversando comigo, o que mais pode ser?

Ela ri, e alto, tanto que algumas pessoas próximas olham, mas rapidamente. A musica era tão alta que não dava para escutar de muito longe.

- É, parece que tu ta certo, mas eu acho que tu passa pela mesma coisa, ou to errada?

- Não deixa de ta certa, infelizmente.

- O que que ele te fez?

- Ah, - exclama ela, parecendo mais frustrada ainda – Me trocou por outra, minha melhor amiga, legal, não?

- Parece interessante. – digo eu, vendo ela sorrir um pouco. – Meu caso é mais pra Amores Não Correspondidos.

- Passei um bom tempo com ele, mas ele não valia os pais que tinha.

- Hehehe, - Agora a risada é minha. – Nunca consegui a minha, mas depois de muito cansado de sofrer, aprendi que o amor não é paixão, e sim querer bem a aquela pessoa. Desde então, tentando esquecer o que ainda lembro.

- Bonito. – impressionasse ela – Parece bonito. Isso é algo que me esclarece algumas cosias. Obrigada.

- Nada. São coisas que se aprende com a vida. – Ri.

Nesse tempo, chega um de meus amigos, que voltava da pista de dança, e vendo a situação, quase passa, mas eu, não me importando, chamo e apresento-o a ela:

- Esse é um amigo meu, veio comigo, Marcos.

- Prazer – diz ele.

- Prazer, Laura. – responde ela.

Ele se vai, mas antes, arregala os olhos e balança afirmativamente a cabeça, sem deixar que ela veja. “Se deu bem, pensou ele.”.

- Hm, Laura, o nome faz jus a pessoa. – digo eu. – Prazer, Lucas.

Ela ri, - Prazer.

Notei que após eu ter comentado do amor, ela ficou ligeiramente estranha. Levanto meu copo de novo, para um novo brinde.

- Brindemos pelo esquecimento.

Ela só concorda com a cabeça.

- E então, vamos ficar só aqui ou vamos dançar logo?

Ela me olha, parece que pensava. – Achei que tu não ia me convida nunca. – saltando da cadeira e me puxando pro meio do salão. Logo nos perdemos em meio à multidão. Nunca dancei tanto. Fomos, todos, noite adentro...

Foi a mais maravilhosa das noites. Deixamos para trás toda aquela dor, que mantínhamos há algum tempo, no entregamos à novas experiências, descobrindo que o “pós-amor-que-deu-errado”, pode ser melhor do que pensamos, pois temos medo da mudança, medo do novo, medo de nos aventurarmos, e acabarmos mal, já que temos em nosso consciente uma experiência que deu errado. Porque iríamos nos expor de novo? Para se machucar novamente? Talvez, mas nunca saberemos se não tentarmos, e o pior, é chegar ao fim da vida e se arrepender daquilo que deveríamos ter feito, mas não fizemos.

Cheguei em casa cedo pela manhã, extremamente cansado, já que viemos caminhando, porém, muito feliz. O amor parece ter batido mais uma vez nesse coração de pedra.