Capítulo 2 - Um Novo Amanhã

Os olhos se abrem, lentamente... Onde estou? Ah, em casa, é claro. A cabeça ainda zunia um pouco, provavelmente por causa do som alto na noite anterior. Eu estava em casa, e vivo. Vagarosamente, comecei a lembrar do acontecido, até chegar a Laura. Ah Laura, que criatura divina. Para esse coração que parecia perdido, ela foi o que trouxe a vida de volta. Seus olhos, castanhos e lindos, a me olhar na noite anterior, e depois o beijo... Ah, aquilo que foi um beijo...

Foi quando voltávamos para casa. O caminho era longo, mas com a companhia de várias pessoas que também tiveram essa brilhante idéia, já que fazia uma noite tão clara, foi o que espantou o medo dos perigos da noite. Aos poucos, quanto mais caminhávamos, o grupo diminuía, até sobrarem alguns poucos, já no centro da cidade. Aconteceu então, que ficamos só nós dois, Laura e eu. Ela morava num bairro bem próximo a minha casa, o que achei ainda melhor. “As deusas estão próximas”, pensei.

Bom, era chegada a hora das despedidas. Ah, não havia coisa mais dolorosa. E só após trocas de números de celular, e-mail, msn, endereço, e várias promessas de se encontrar em breve, foi que de um salto, caímos nos braços um do outro. Aí foi o beijo mais maravilhoso que jamais imaginei. Ah, que maravilha! O tempo parou, o vento parou, o barulho dos insetos da noite parou. Parecia que a cidade inteira parara apenas para nos agraciar. Durou uma eternidade, e a pena, é que essa eternidade se acabou, ou pelo menos por hora.

Ainda deitado, admirava o teto, e indagava se tudo aquilo fora real ou não.

- Porque não seria uma ilusão? Nada pode ser tão perfeito...

Mas foi, real e perfeito. Agora, era esperar o futuro, e suas graças. E como demora!

Consegui então, me levantar da cama. Direto para o banheiro, precisava de um bom banho para ficar bem acordado. Como sempre, meu pai chegara logo e não tardaríamos a sair para almoçar. A minha vontade era ligar para ela imediatamente, mas me contive. “A expectativa engrandece o amor”. Esperei.

Algum tempo depois, dormindo mal e passando o tempo todo pensando nela, finalmente achei que deveria ligar. Nada mais do que um dia, mas podemos pensar com um pedaço da eternidade. A voz macia de um homem atendeu. Meu coração disparou. O pai dela, talvez. Aí gelou o corpo inteiro. Me contive:

- Gostaria de falar com a Laura, ela está?

- Sim, um momento. – respondeu ele. – Mas quem gostaria?

Essa criatura tinha que perguntar! Ô desgraça.

- Um amigo, Lucas.

Ouço a voz dela respondendo o “já vou”, que ele repete para mim pelo telefone.

- Eu espero – Já esperei tanto, mais um pouco não seria problema algum.

Ouço os passos rápidos, e logo aquela voz que me deixo sem fala por segundos.

- Alô - ela disse – Lucas?

Aí fu... Gelei e não conseguia falar coisa alguma. Pensei em bater o telefone, mas daí era jogar muita coisa fora, talvez a minha vida fora. Ô desgraça. Juntei o que eu conseguia de coragem e disse:

- Oi, sou eu, tudo bem com você?

- Sim, tudo bem, foi pra casa direitinho como eu mandei? – disse ela baixinho, provavelmente pra evitar que alguém ouvisse.

- Mas quem se atreve a desafiar Vossa Senhoria? – Agora bem mais solto. – Mas não demorei cinco minutos e já estava em casa, como ordenado.

Ela ri – Só tu mesmo guri!

- E daí, tá fazendo o que por aí?

- Ah, nada de importante.

- Então tem um tempinho pra um passeio pelo bairro?

- Vou ver na minha agenda, mas acho que daqui a quinze minutos na praça poderia ser...

- Estarei lá – Quase explodindo de tanta excitação. – Quinze minutos. À caminho.

- Então tá marcado. Vou desligar antes que comecem a me incomodar por aqui, Ok?

- Certo, até daqui a pouco.

- Até, beijo.

- Beijo... – E ouço o barulho do telefone sendo desligado no outro lado da linha, e desligo também. Quase não consigo acreditar no que fiz. Meu Deus. Me atirei na cama, sonhando com mil e uma possibilidades de futuros diferentes com nós dois juntos. Mas logo lembro do tempo curto. Eu tinha que me arrumar.