Juca

Após uma semana de trabalho duro, seu passo era intenso e preciso, era o passo de quem sabe o que procura. Acabara de sair da escola dominical, o sol estava a pino.

Após a segunda esquina, avistou no final da Rua Boa Viagem (um dos principais becos de acesso à Favela Mangueirinha) uma figura que por motivos óbvios, ainda nutria bastante afinidade, e num brado: - Juca é você? Uma voz no fundo da viela respondeu imediatamente:

- Caralho!!!! É você Marquinhos!

A familiaridade que tinha com aquele tom amistoso da resposta recebida soava como uma espécie de boas vindas. Recomendou à esposa: - Carminha se adianta com os meninos que eu vou ali evangelizar uns irmãos!

O bico do sapato social brilhava mais que a inicial de seu nome, que exibia com orgulho no antigo cinto fino que usava para as reuniões da Igreja Universal aos domingos, e isso ofuscou a visão de parte do bando ao verem entrando no beco aquela figura atípica para os padrões do local.

-Pensei que você nunca mais fosse aparecer.

- Pois é Juca, tô na igreja agora, já são três semanas...

- Fica tranqüilo que aqui você também está entre irmãos!

- É verdade, já orei pra caçamba, sei que papai do céu vai me perdoar.

- Relaxa, estamos aqui pra isso mesmo! Essa é da boa!

Quando Marquinhos deixou o local naquela manhã de domingo, ao seu ouvido, o salto do seu sapato em contato com o chão, reverberava muito mais alto.

Ricardo Villa Verde
Enviado por Ricardo Villa Verde em 12/03/2012
Reeditado em 12/03/2012
Código do texto: T3550774