Lá Pro Lado do Beco dos Prazeres.

Os caras diziam lá pro lado do Beco dos Prazeres, na calada da noite, que uísque bom era aquele que no dia seguinte ninguém lembrava o que havia tomado... Que a coisa ficava feia quando todo mundo gripava de repente e via disco-voador. Tantas coisas os caras diziam que não dava vontade de pensar em nada, e assim continuávamos, sem pensar em nada, olhando as estrelas para ver se elas diziam alguma coisa que nos livrasse do aniquilamento diário e natural da raça humana. Éramos ainda crianças, mas estávamos, não sabíamos porque, fartos de tudo aqui. Não sabíamos nada, nem o que poderia ocorrer no dia seguinte. Muitos, até hoje, nem sequer se lembram que dia da semana é amanhã.

Sempre que fico recordando e remoendo ao mesmo tempo uma fenda que existe dentro de minha alucinação, ouço vozes do além e noto que alguma alma penada senta imediatamente ao meu lado. Isso se dá com mais freqüência quando estou com um copo de cerveja à vista. Causa até a impressão que algum espírito bêbado senta ao meu lado para ver se suga algum resquício de vapor de cerveja exalada pelas minhas narinas. Como isso sempre é recorrente, é provável que esse maldito esteja me atormentando há um bom tempo. Amanhã farei um suco de kiwi, aí quero ver o bicho sugar kiwi e se divertir!

Malditos espíritos do além, vira e mexe aparece um pra me atormentar. Outro dia o cara do Morphine, nem sei o nome do sujeito, veio me atazanar. Dizia que fora vocalista dessa banda de rock e que precisava desabafa, e que, àquela hora, apenas eu estava “online”. Olha só, o cara usou o termo “online” porque queria ser agradável ao recepcionar minha persona, que vive em plena era virtual, ou de alguma forma existe a conexão entre o aquém e o além?

Sei lá, sei que o cara tava mais que doidão, varado há três noites. Nem sei como isso é possível...

É, no Beco dos Prazeres, depois da meia-noite, a coisa fica feia...

SAvok OnAitsirk, 14.03.12.