A Morte dos Sentimentos.

O sistema não me aceitou. Não sirvo pra nada do que precisam. Mas, antes de tudo, tenho alguns problemas a resolver.

Tentei, juro que tentei dar um jeito na minha vida, como minha mãe disse, como minha mulher disse, como algo dentro de mim disse, mas não me aceitaram como de fato sou. Não sou e nem serei igual a ninguém.

O que me resta é um resíduo de esperança, que escoa pelo buraco de meus dias como areia fina na ampulheta amputada.

Do meu resto faço um dia louco e, logo ao acordar, saio de casa sem olhar pros lados, nem pra cima, nem pra baixo, saio a fim de buscar uma réstia de sol que ilumine algumas horas que me restam de lucidez.

Tudo deu errado! Meus planos foram pelo ralo, junto com a água suja dos dias pesados dias passados.

Meu sapato de outras eras ultrapassa as calçadas desviando da areia e da merda dos cães esquálidos que rasgam madrugadas. Os pombos disputam com os gatos soturnos uns nacos de gordura de carne de espetinho que mais um porco lançou ao meio-fio, como se aquilo nunca mais fizesse parte de seus dias.

Quanto tempo não me sentia assim. Pelo lado finito de quem não tem nada a perder, até que tal sentimento de desesperança tem seu ponto positivo.

Há muito tempo não me via como um ser humano falível, miserável, prestes a cometer algum absurdo ato de auto-aniquilamento. Há muito não ficava num canto, largado, não dando a mínima para o que acontece ao redor, ao que o mundo e seus porcos seres humanos tem a dizer.

Estourei o limite do cheque especial para me possibilitar um pouco de liberdade dentro desta ilha de hipocrisia.

Estourei os limites de minha paciência para com tudo e todos, mas não vou me matar, e essa é a única verdade que carrego dentre de meu peito vazio.

Joguei os sentimentos afetados no latão de lixo. Rancor, amizade, compaixão, mesquinhez, inveja, raiva, depressão, tudo isso e um pouco mais, tudo parte do mesmo turbilhão de sentimentos tolos e dispensáveis, joguei! Joguei tudo no latão do esquecimento!

A partir de agora me esqueçam todos! Não esperem de mim uma lágrima de raiva, tristeza ou alegria! Não mais verão meus sentimentos por aí expostos, seja primavera, outono ou inverno. Agora, a partir de agora, tudo é aqui dentro e o que vem de fora não fará com que mova um dedo ou mesmo um cílio do olho esquerdo caso o sentimento esteja em jogo.

O mundo não foi feito para os sensíveis, está claro. Matam-lhes aos borbotões, como insetos. A isto verifica-se o transcorrer da história no que tange aos sensíveis, ver-se-á o quanto foram trucidados feito cadelas pestilentas. Tire por base os grandes, os quais não citarei nomes para não parecer parcial ou afetado por sentimentos com relação a um ou outro em particular.

Passei trinta e tantos longos e irrecuperáveis anos de minha vida tentando ser bom e agradar ao próximo, à mãe, ao filho, ao pai e ao divino espírito santo, ou seja, tentei ser o que minha natureza de modo algum me possibilitou lutar, enquanto era pisado todo santo dia por miseráveis Cristãos que se diziam tementes e piedosos, mas que usavam estas armas para me aniquilar, e aniquilar aqueles que de alguma forma como eu pensavam. Eu não era cristão e nem um dito piedoso, mas carrega uma compaixão, sentimento e amor pela vida e pela humanidade em si, que cristianismo nenhum, na prática, era capaz de seguir, e quanto a isso, agindo desta forma, só era pisoteado e humilhado, dia e noite, desde que me conheço por gente. Agora, porém, acabou!

Acho que fiquei velho de tanta porrada, e agora que lançar minhas idéias brancas e isentas a quem merece. Antes quase enfartava diante várias situações, sentia medo e receio por tudo, tremia nas bases, ficava noites sem dormir, rangendo os dentes, me agarrando a palavras ditas ou ao que poderiam pensar ou deixar de pensar sobre minha pessoa.

Agora, quero ver!

Quero ver quem é meu inimigo imaginário e mostrar ao mesmo tempo quem eu sou. Para tanto estou armado, mesmo fraco feito um burro velho, e disposto para qualquer duelo, seja em dia quente, sob o sol tórrido ou mesmo diante um madrugada fria de um tempo sem sentido.

Se alguém tem algo a me dizer, que seja na minha cara, na hora e na lata! Quem diz pelas costas é fraco e teme resposta, por isso usa a traição e a ausência do “difamado” para propagar desonras.

Por isso, e por fim, por enquanto, informo sem pesar a morte de meus sentimentos sociais, cristãos e ortodoxos!

SAvok OnAitsirk, 29.03.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 29/03/2012
Código do texto: T3582505
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