Última Palavra.

Jovem de vinte e sete anos morre depois de passar nove dias falando sem parar. Sua mãe disse que o surto se deu depois que todos os seus conhecidos, amigos e parentes (até o cão fugiu de casa) foram embora, enjoados de tanto que a moça falava. Em qualquer encontro ou ocasião, seja onde fosse, não tinha pra ninguém. Falava sem parar, de tudo e de todos. Ninguém tinha chance com ela. Era uma verborréia atrás da outra, dizia uma testemunha ocular, que por pouco também não veio a óbito de tanto ouvir.

Ela falava de tudo, dizia a testemunha, sem vírgula ou ponto final. Ponto e vírgula, então, ela nem sabia o que era.

O fatídico acontecido se deu às dezesseis horas do nono dia falando ininterruptamente. Quando disse a última palavra – “então...”, virou os olhos, babou pelo canto esquerdo da boca e caiu morta, gerando um silêncio que fez toda a comunidade circunvizinha se calar de tristeza.

SAvok OnAitsirk, 02.04.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 02/04/2012
Reeditado em 02/04/2012
Código do texto: T3590089
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