Homem-Bomba.

Homem-bomba mata quatro e fere outras dezessete pessoas em explosão numa agência bancária na Zona Leste de São Pualo.

A explosão ocorreu depois que um desconhecido, que falava nervosamente ao celular, foi reconhecido com causador da tragédia.

O que mais chamou a atenção dos peritos foi que o homem não portava nenhum tipo de explosivo, e a causa da explosão gerou uma tremenda discussão envolvendo diversos campos de atuação, tanto na filosofia, que dizia que o pensar é de fato algo explosivo, e que explodindo todos existimos, bem como no campo ético-médico-psicológico, a respeito dos efeitos do nervosismo no sistema gastrointestinal dos seres humano, e o desrespeito com que o cidadão comum é tratado pelos órgãos governamentais, como bancos, postos, agências, etc, etc. Até experientes especialistas anti-bombas ficaram chocados com o ocorrido. Muitos pediram as contas depois disso.

Acontece que um cidadão de nome Plácido Dias, de 62 anos, segundo testemunhas, conversava havia mais de três horas ao celular, bufava proferindo xingamentos e palavrões em voz alta, andando de um lado a outro feito um leão faminto enjaulado, dizendo que estava fodido e que tudo na sua vida dava errado, momento em que auto-explodiu.

Um mistério tomou conta da Nação. “Tudo foi de uma hora pra outra”, dizia uma senhora que comia um big Mac feliz acondicionado dentro de um saquinho pardo, e que, por sorte, havia acabado de sair do banco.

Segundo os especialistas, tal fato raro se deu após o Plácido tentar durante semanas cancelar o contrato de seu telefone fixo junto ao call Center responsável, enquanto só ouvia mensagens gravadas de secretárias eletrônicas, que mandavam que ele discasse vários números de acordo com a opção escolhida, seguida por horas de uma música clássica que se repetia ininterruptamente, sendo que tudo se deu devido à junção de vários fatores, como o excesso de fúria cega incontrolável, acompanhada por ataques psíquicos súbitos, advindos do cansaço, da espera em filas, balcões, das contas e pensão de sua filha atrasadas, da gastrite mal-curada, da unha encravada, da gengivite, do injusto sistema de tributação, a miséria do pensamento ocidental capitalista, além de uma réstia de depressão fisiológica, e que tudo isso, junto e misturado aos nervos à flor da pele pôde ter sido o foco causador da explosão.

As testemunhas, ainda muito traumatizadas com o acontecido, relatam que o pobre senhor estava muito irrequieto na fila, meio desorientado, e que, depois de uma hora e meia falando ao celular, perceberam que sua expressão e comportamento já não eram os mesmos. Começaram a brotar brotoejas em suas bochechas, sua cabeça se avermelhou em demasia, veias ululavam na fronte, olhos esbugalhados dando a impressão que saltariam da órbita. De repente começou a puxar os cabelos e ir cada vez mais rápido de um lado a outro, rangendo os dentes. Por último, diz uma sobrevivente, que conseguiu correr antes que o pior acontecesse, o homem ficou tão vermelho e inchado, parecendo uma bexiga vermelha de aniversário de criança, que o guarda até correu para socorrê-lo, mas já era tarde demais. A explosão incomensurável lançou aos ares todo teto da agência, abrindo ainda um buraco de dezessete metros de largura e cinco metros de profundidade no solo. Foi horrível!

Segundo o Dr. Ayres Ferrez, neurologista renomado:

“Até hoje custo a acreditar no que a raiva incontrolável foi capaz de fazer com aquele pobre cidadão, levando a vida de outras pessoas, inocentes e calmas, por assim dizer, que aguardavam atendimento. Afinal, todo banco tem ar-condicional, e deveria ter também, obrigatoriamente, um sistema de detecção de homens-bombas”.

SAvok OnAitsirk, 05.04.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 04/04/2012
Reeditado em 04/04/2012
Código do texto: T3593666
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