O SINAL

Era final de tarde e todos os preparativos para a viagem já estavam prontos. Alice estava no oitavo mês de gravidez e decidiu viajar para a cidade onde nasceu, queria ter seu filho perto de toda a sua família. Eduardo, seu marido concordou com veredicto e viajou com ela para belo horizonte.

A estrada estava calma, não tinha muitos carros e tudo transcorreu muito bem pela madrugada. Perto do amanhecer do sol, enquanto subiam a serra viram uma capelinha e decidiram orar. Estacionaram o carro e entraram na capela. Ela era simples, alguns bancos , um altar de madeira que tinha ainda dois castiçais, um em cada lado do altar; e um local para uma imagem religiosa, que no momento estava vazia (deve ter sido saqueada ou retirada por causa dos furtos). Dirigiram-se para perto do altar, se ajoelharam e começaram:

“pai nosso que estai no céu...”

Após algum tempo uma neblina pesada começou a surgir dos castiçais se dirigia para o buraco feito para as imagens, lá ela circulou por completo o buraco e de relance deu para ver uma imagem de nossa senhora lá dentro.

O casal ficou imobilizado com a neblina, mesmo assim terminou a oração. Enquanto terminavam escutaram uma voz:

“Os desafios da vida são superados através da fé, tem de ser forte para suportar o inesperado”

A voz falava calmamente como se quisesse que cada palavra fosse ficar para sempre na mente daqueles que a ouviam, era uma voz linda de uma mulher de uma beleza singular, e que só de escutar todo o seu coração ficava em paz.Ao fundo podia-se ouvir sinos tocando.

“... o inesperado”, as últimas palavras continuaram a ecoar por um bom tempo mesmo depois do casal ter terminado a reza. Ambos abaixaram a cabeça como reverência e seguiram o caminho. Ao virarem as costas todas as névoas tinha desaparecido saíram da capela e continuaram a jornada para Belo Horizonte.

Em todos os momentos da viagem, agora, eles lembravam o acontecimento, mas nada mais de estranho foi notado no decorrer do percurso. Chegaram então finalmente ao seu destino: a cidade natal de Alice; eles foram recebidos com festa e Alice era mimada mais que o normal, o mês transcorreu muito bem, todos estavam felizes como a chegada de mais um membro da família...

--- AIIIIIII --- gritou Alice do quarto --- A bolsa arrebentou. Me levem para o hospital, logo --- gritava Alice.

O marido que tirara o mês para as férias estava na sala e logo foi ajudar a esposa. Em um instante todos se arrumaram para o hospital, um pouco mais de meia hora lá estavam todos no hospital, extremamente agitados mas muito felizes.

Antes de entrar na sala de cirurgia Alice pegou o braço de seu esposo e falou calmamente como se quisesse que aquelas palavras jamais saíssem se sua mente:

“À vontade de proteger os que ama supera qualquer obstáculo, eu te amo...” e antes que ele pudesse perguntar o que aquelas palavras significavam ela entrou na sala de cirurgia.

Enquanto esperava escutou barulhos de sinos pensou que era apenas imaginação e continuou a pensar em sua esposa, novamente escutou os sinos.“Eu também te amo Alice”, pensou ele, e começou a rezar, pela terceira vez escutou os sinos mas dessa vez mais devagar e cada vez mais baixo até desaparecer por completo, não sabia se era só ele que estava escutando ou se as outras pessoas que estavam ao seu redor também escutavam.

Os parentes de Alice foram para a sala de espera, Eduardo ficou ali, para saber qualquer informação sobre sua esposa para o que saísse daquela sala.

O tempo passa realmente devagar quando nós estamos esperando desesperadamente por algo, durante horas a luz da sala de cirurgia ficou vermelha, o que significava que a cirurgia ainda estava acontecendo, só então quando a luz ficou verde que ele recebeu notícias de sua esposa.

Um médico e uma enfermeira saíram da sala de cirurgia. Nos braços da enfermeira uma linda criança descansava.

--- É menina --- falou o médico --- e bem forte tal como a mãe.

A enfermeira entregou a criança para o pai.

--- E Alice? E minha esposa doutor, como ela está?

O médico e a enfermeira abaixaram a cabeça.

--- Não é verdade, não é doutor. --- falou o marido como se soubesse o que tinha acontecido com a esposa

--- Sua esposa faleceu no parto, tentamos reanimá-la mas todas as tentativas fracassaram, salvamos a vida de sua filha...

--- “ao meu marido... fé... para o ... inesperado...” foram às últimas palavras que ela disse, logo após falou “a minha filha... dê a ela o nome de Tereza...” --- falo a enfermeira calmamente.

Ele olhou para a filha em seus braços e lembrou da frase que aquela voz na capela da serra falou:

“Os desafios da vida são superados através da fé, tem de ser forte para suportar o inesperado”Então era desses desafios que ela estava falando? Como suportar a dor de perder o seu grande amor?

“À vontade de proteger os que ama supera qualquer obstáculo...” ela já sabia então o que ia acontecer?

Ele estava atordoado, olhava para a criança em seus braços, ela estava sorrindo, não sabia o que fazer. Em tão sorriu de volta, a criança acalmou-se, fechou os olhos e começou a dormir, era como se ela entendesse o que estava acontecendo. O homem olhou para o médico e para a enfermeira:

--- Obrigado por ter tentado salvar a vida de minha esposa, mas de alguma forma ela sabia da sua sina, minha filha será que nem ela: amável, sorridente, inteligente, saudável e feliz; certamente, pois tem a força de vontade de viver da mãe...

Os médicos sorriram. Os familiares de Alice que estavam que esperando por notícias, na sala de espera chegavam, e ficaram surpresos ao ver a criança nos braços do pai, dirigiram–se a ele, a criança em seus braços estava descansando, os médicos se foram e deixaram os familiares mimando a nova integrante da família.

Isso é por você Alice, olhou para a filha que estava sorrindo enquanto dormia e pensou: “você será que nem ela minha Tereza... terei fé e amor a vida não se preocupem”

Bruno Edson
Enviado por Bruno Edson em 28/01/2007
Código do texto: T361537
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