FEITIÇO...

Ouvi contar antiga lenda Sioux, na qual o jovem, chamado Touro Bravo, considerado um valente guerreiro, estava loucamente apaixonado pela filha do cacique, chamada Nuvem Azul, uma das mais belas e formosas jovens da tribo.

Sem poder segurar o fogo daquela paixão, foram os dois procurar o velho Pajé.

Chegaram abraçados e disseram:

- É imenso o amor que sentimos um pelo outro – disse o rapaz –, não podemos nos conter, e vamos nos casar; amamos-nos com tanta intensidade que precisamos de um feitiço, um conselho, ou um talismã, algo que nos garanta que ficaremos juntos para sempre, até a morte. O senhor pode nos ajudar?

O velho feiticeiro, deveras emocionado, ante aquela efusão de amor, olhando os dois jovens, que estavam sequiosos por sua palavra, disse-lhes:

- Há algo a ser feito, entrementes é uma tarefa árdua e arriscada! Você, Nuvem azul, subirá à montanha localizada ao norte e, apenas com uma rede e tuas mãos, caçará o falcão mais forte da região e deverá trazê-lo com vida à aldeia, até o terceiro dia após a lua cheia. Fez uma pausa e dirigiu-se ao jovem guerreiro:

- Touro Bravo, você escalará a montanha a oeste, e, somente com uma rede e tuas mãos, deverá prender a mais agressiva e poderosa de todas as águias, trazendo-a também com vida até aqui.

Os dois apaixonados abraçaram-se e seguiram para executar o que lhes fora pedido.

Três dias depois, os jovens chegaram à tenda do Pajé com as aves dentro de sacos.

Exibiram, com orgulho, os espécimes. Eram duas lindas e voluntariosas aves.

Os jovens imaginando que iriam matá-las, beber o sangue e depois comê-las, esperavam a ordem para tanto, quando o sábio feiticeiro falou-lhes:

- Com estas tiras de couro, juntem-nas entre si pelas pernas, e, bem apertado, depois as soltem!

O jovem guerreiro e a filha do cacique, sem entender coisa alguma, soltaram a águia amarrada ao falcão e tentavam voar, todavia, apenas saltitavam pelo chão, de imediato, irritadas por não poderem voar, elas se agrediam, dando bicadas e ferindo-se mutuamente. Os dois se entreolhavam, cismarentos...

O Pajé tirou uma longa baforada do cachimbo, aproximou-se e asseverou com ênfase:

- Não esqueçam o que veem! Os apaixonados são como a águia e o falcão, caso estejam amarrados um ao outro, mesmo que por amor, poderão se estressar, se irritar e, mais cedo ou mais tarde, passarão a se agredir, a machucar um ao outro. Para o amor perdurar, não há necessidade de nenhum filtro mágico, amuleto. Voem sempre juntos, porém, nunca atados.

É como dizia Gandhi: “Não há caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho!”.

As afeições puras e verdadeiras devem libertar e não prender os seres. Libertar de inquietações, de complexo de inferioridade, da insegurança, do medo, do ciúme.

Mesmo afastados temporariamente, aqueles que se amam estarão se buscando em espírito.

Assim é assim deve ser...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 01/05/2012
Reeditado em 16/10/2012
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