Questão de Ponto de Vista
A chegada do novo gerente, que viera para colocar ordem na casa, causou rebuliço e insegurança no escritório “B”. Afinal, a fama de grosseirão irascível de Otaviano era assunto em todos os corredores.
Faltava-lhe Inteligência Emocional, diziam.
O pessoal do escritório “A” comemorou sua transferência com champagne, e era comum a todos, frases do tipo: “Graças a Deus ficamos livres dele” ou “Já vai tarde!”
A seu favor, Otaviano tinha um caráter irrepreensível, uma inteligência brilhante. Era bonito, bem vestido, mas faltava-lhe aquele charme que faz suspirar uma mulher.
Contra: era exigente e mal humorado e sujeito a crises de chiliques se o trabalho não saísse perfeito. Podia ir da calmaria à explosão na velocidade de um meteoro.
A convivência confirmou os comentários. Estar sob o seu comando era como andar num campo minado. Podia se dar bem e sair ileso, ou pisar acidentalmente, numa mina e explodir.
Otaviano era capaz de provocar reações extremas como escolher entre esmurrar e machucar a mão numa porta de banheiro, ou voar em seu pescoço e esganá-lo. Ou espanto por ele ser capaz de se solidarizar com problemas pessoais dos seus funcionários.
Certo dia, a diretoria foi substituída e Otaviano caiu em desgraça.
Lá veio o novo gerente, com sua cara insignificante, sorriso idiota no rosto, e sua inseparável pastinha. Fazia o tipo que adora dar tapinhas no ombro como a dizer: "estou com você e não abro”.
O pessoal do escritório ‘B” respirou aliviado.
Porém o tempo revelou que “sorriso idiota” era mais falso do que produto falsificado. Enquanto Otaviano somava conhecimento e alcançava resultados, “sorriso idiota” se dedicava à política de colocar uns contra os outros.
O escritório ‘B” virou um inferno.
A ponto de o pessoal sentir saudades de Otaviano. Até de dizer pelos corredores: "a gente era feliz e não sabia".
Ironia?
Questão de ponto de vista.