A lenda da Burguesa Rebelde

Aletheia nasceu na década de 80, filha de um rico e influente fazendeiro paraense e de uma ilustre advogada e escritora amazonense. O casal já tinha um filho, Sócrates, que tinha 3 anos quando a irmã nasceu. Assim começa a história da Burguesa Rebelde...

Maurício era um homem ríspido, que não sabia lidar com pessoas, só com os gados e, por sinal, era sempre cruel com eles. Como buscava prestígio social, tratou logo de arranjar casamento com Leitícia, que ainda era acadêmica de direito. A jovem era contra o casamento, mas sua família a forçou. Foi um golpe fatal para a jovem feminista que queria revolucionar sua época. Ela tentou fugir de casa, mas seus irmãos a espancaram. E, assim, ela casou, para ser exibida como um troféu pelo rude marido.

Depois de muito sofrer para concluir seu curso, pois Maurício tentou impedir seus estudos (para ele, a universidade não ensinava nada que prestasse), Leitícia fez de tudo para que ele pedisse divórcio. Mas quem se cansou foi ela... Não era fácil para uma brilhante e independente jovem de 2O anos, formada em Direito, conviver com um homem violento e ignorante de 50, por pura tradição (idiota) de família. Três anos de tortura, pois Leitícia casou aos 17 com o consentimento dos pais mas contra a própria vontade, uma vez que desejava ser uma mulher indepente. Ela entrou para a Universidade aos 15 anos, tinha destaque em tudo o que fazia. Era muito querida pela turma e estava gostando de morar em Belém, achava Manaus muito quente e apreciava as chuvas vespertinas da Cidade das Mangueiras. O casamento gerou muitos obstáculos para ela e durante esses três anos, tomava pílula em segredo, não desejava ter filhos daquele homem.

A situação ficou tão insuportável, que a jovem tentou se enforcar durante um fim de semana em que viajara para a fazenda. Ela agonizava quando surgiu Maricota, a senhora que cuidava dos carneirinhos. Dona Cotinha gritou e os funcionários vieram em socorro. Leitícia ficou desacordada por uma semana. Maurício providenciou um médico de confiança para cuidar dela. Dr. Rodrigo a examinou e considerou prudente injetar soro glicosado na paciente. Dona Cotinha perguntou se ela podia continuar os banhos com ervas e ele não fez objeção. Leitícia era doce e carismática. Todos a amavam na fazenda.

Depois de 13 dias, a jovem despertou. Dr. Rodrigo conversou com ela e percebeu que o seu quadro era de depressão profunda. Ele soube de toda a história de vida de sua paciente e ficou penalizado por não poder ajudá-la como ela queria. Mas deu-lhe um conselho: "Filha, já que não podes vencê-lo, une-te a ele. Não falo para o teu mal, mas sabes como é teu pai e o teu marido. Ambos são machistas e nunca irão admitir uma mulher em destaque. Lembras-te de que teu pai queria que fosses apenas costureira e que, inicialmente, foi contra teus estudos, segundo o que me disseste? Conforma-te e cumpre o papel que eles querem de ti: o de ser mãe. Assim, a tua solidão se ameniza".

E assim se fez... Após morrer por dentro e sepultar seus amados sonhos, Leitícia resolveu que iria engravidar para satisfazer os caprichos da família. No entanto, prometeu algo a si mesma: lutar pelos sonhos dos filhos como nunca conseguiu lutar pelos seus. Três meses depois, descobriu-se grávida do primeiro filho. Ela mesma escolheu o nome: Sócrates. Pensando consigo mesma, ironizava "Não te preocupes com a sicuta, filhinho, já tomei, tá!? Apenas busque e viva pela verdade". A maternidade a fortalecia a cada dia. A fez muito bem e foi o pretexto ideal para mantê-la afastada do marido por longo tempo.

Sócrates era um bebê adorável e muito sapeca. Sua mãe se dedicou integralmente a ele, o que fez bem a ambos. Maurício ficava enciumado, mas não resistia ao sorriso do filho... Ele era um pai amoroso. Isso fez com que Leitícia olhasse o marido com outros olhos. Ela sentia gratidão por aquele homem um tanto rude, mas de bom coração.

Ao completar dois aninhos, Sócrates pediu aos pais um "ismãozinho". Ele queria ter com quem brincar, afinal, era chato ser a única criança em uma casa onde só havia adultos. Além disso, as viagens à fazenda eram apenas aos fins de semana ou nos meses de junho, por causa das festas juninas, ou dezembro, para comemorar o Natal.

Meses depois, pensando no desejo do filho...

CONTINUA

Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP)
Enviado por Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP) em 03/05/2012
Reeditado em 08/05/2012
Código do texto: T3647462
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