Estrela guia

Sempre gostei muito de ler,haviam dias em que vivia apenas de livros,não comia,e bebia apenas palavras,sentia as histórias,e aquelas,aquelas de heróis,me faziam sentir corajoso,me davam força,segurança,poder salvar as pessoas,genial !Mas sabia que quem tinha o poder nas mãos eram os autores,que dão vida aos personagens,e enchem as histórias de detalhes,não sei ao certo o momento em que comecei a desabar,mas sei que foram as histórias,elas é que me salvaram.Minha vida sempre foi boa,tinha meus pais,que sempre me deram conforto,amor e atenção,tinha amigos ótimos,estudava em uma boa escola,e para completar eu tinha uma biblioteca inteirinha só para mim,desde que meus pais descobriram minha paixão pela literatura,começaram a me dar livros,ate que tiveram de fazer uma sala cheia de prateleiras só para guarda-los ,eu é claro fiquei muito feliz com a ideia,a cada livro um mundo novo,uma descoberta,conhecia muita gente,viajava por muitos lugares,uns perigosos,mas sempre haviam mocinhos para salvar a todos,e nem precisava sair de casa,ficava apenas na biblioteca.Foi quando meu pai morreu,já tinha meus 15 anos.Fiquei chocado,pois ele sempre foi tão jovem,e cheio de saúde,mas tinha uma doença muito grave,nem os médicos conseguiram saber do que se tratava,minha mãe sempre foi muito forte,e como em todos os desafios de sua vida ela se manteve mais forte ainda,pois tinha que cuidar de mim,e queria que eu me tornasse um homem de coragem,foi por ela que amadureci,tive que ajudar minha mãe,com a empresa de meu pai,apesar de muitos empregados para cuidar de tudo,minha mãe dizia que deveríamos ter os olhos sempre bem abertos quando se tratava de dinheiro.Com escola e trabalho me sobrava pouco tempo para ler,foi ai que aprendi que a vida não se tratava apenas de finais felizes,mas sempre mantive as esperanças,nas histórias os meios são sempre sofridos,mas no final tudo se ajeita.Minha mãe se orgulhava cada vez mais do homem que estava me tornando,mas já estava cansado de tudo,de fazer todos essas coisas,de ter que ser o homem da casa,com tão pouca idade,estava quase me formando,faltava pouco.Um dia,depois da aula me convidaram para ir a uma festa,pensei que não haveria problema faltar o trabalho um dia,achei que nada demais poderia acontecer,liguei avisando minha mãe,que concordou,pois eu nunca me divertia.A festa parecia boa,todos muito animados,perguntei ao meu amigo de onde tiravam tanta energia,ele me disse que era uma droga chamada êxtase,perguntei se ele tinha um pouco,me disse que sim,e custava pouco,experimentei,e fiquei cheio de energia,nem parecia que era eu,parecia outro jovem ali dançando,conversando rindo,adorei isso,quando cheguei em casa,minha mãe ouviu os barulhos e perguntou porque eu havia chegado tarde,disse que era uma festa,ela notou meu jeito,e ficou preocupada, desmenti um pouco,fui dormir.Quando acordei,já eram 15 hrs,havia perdido aula,e estava atrasado para o trabalho,cheguei,mas fiquei com muita dificuldade para me concentrar,com muita dor de cabeça,estava péssimo,fui para casa,achei que era falta de histórias,tentei ler,mas não consegui,comecei a ouvir vozes,mas não havia ninguém perto de mim,minha mãe queria que fosse ao médico,mas não fui,pois ela poderia descobrir o que tomei.Aos poucos fiquei triste,pensei que fosse saudades de meu pai,mas vi que não tinha nenhum motivo aparente,pensei que talvez o êxtase que tomei pudesse ter causado tudo isso,pesquisei um pouco e acertei,mas queria aquela sensação boa de volta,comecei a tomar mais,ia a festas,achava que me fazia bem.As aulas já estavam acabando,faltava apenas uma semana,a semana final,a das provas,precisava de algum incentivo para me concentrar,descobri outra droga,a anfetamina,e comecei a tomar,me sai muito bem nas provas,me formei,minha mãe estava super orgulhosa,estava dando tudo certo.Estava fazendo faculdade de administração,e estava indo muito bem,mas chegava a hora das provas e eu precisava de concentração,e ingeria cada vez mais drogas,e diferentes e mais fortes,até que elas começaram a ter apenas um efeito,de estragar totalmente com a minha vida,esperanças,expectativas e sonhos,minha mãe descobriu,tentava me ajudar,mas não conseguia,eu não queria ajuda,não lia mais,larguei a faculdade,e a empresa de meu pai também havia largado,andava com pessoas como eu,tinha me tornado um viciado,e não queria admitir,vendi todos os livros da minha biblioteca,vendi minha paixão por um vicio,estava perdendo a confiança de minha mãe,a pessoa mais importante de minha vida,por coisas que não valem a pena.Minha mãe adoeceu, câncer de mama,o mais comum entre as mulheres,tentei parar com as drogas para dar força a ela,mas eu já não possuía mais esta força,como poderia dar uma coisa que eu não possuía mais?Minha mãe morreu,o desgosto teve força maior que o câncer,se esta doença já é devastadora,ela com o desgosto,se espalhou ainda mais rápido pelo corpo de minha mãe,a decepção pelo filho cobriu todo o coração já cansado dela,nunca mais esquecerei que acabei com a vida dela.Uma enfermeira vendo a minha tristeza se solidarizou,e conversou comigo me deu apoio,uma completa estranha,teve a sensibilidade de ver a dor de um outro estranho,e teve a boa vontade de ajuda-lo,já eu,eu vi tudo o que minha mãe passou e só a fiz piorar,essa moça me fazia ver o pior de mim,mas me apaixonei pelo seu jeito,me cativou com sua inocência e gentileza,começamos um relacionamento,ela era como uma droga para mim,quanto mais provava,mas viciado ficava,mas ela era uma droga boa,quanto mais estava perto dela,mais longe queria estar das drogas ilícitas.Estava em casa pegando algumas roupas para levar para a casa dela,quando achei no meio delas,um livro velho,um pouco comido pelos cupins,e cheio de poeira na capa,quando soprei,pude ler o título, que dizia "O Menino Descalço",comecei a chorar,foi o primeiro livro que meus pais me deram,lembro das exatas palavras que estavam escritas no papel de presente em que o livro estava embrulhado: "Para nosso querido filho,que lendo essas palavras,lembre-se sempre,de que haja o que houver é muito importante sonhar,acreditar,e nunca desistir,pois nós somos,os heróis de nós mesmos."Meus pais estavam certos,só eu poderia me salvar,minha namorada estava me curando,mas não estava completamente bem,eu,nunca imaginei salvar alguém,e agora poderia me salvar,comecei a me tratar,comecei também a ler de novo,e percebi que os obstáculos que são colocados diante de nós,são colocados para que superemos com coragem,e que possamos aprender algo com isso,porque só existem obstáculos que possamos vencer.Escrevi também um livro dedicado aos meus pais,mas a todos os heróis do mundo,sejam os que salvam suas vidas dia,após dia,combatendo seus vícios,ou aqueles que salvam ao próximo dando esperanças de vida,esse são verdadeiros heróis.Escrevo,leio,porque histórias não são apenas ilusões,coisas da nossa imaginação,elas também são baseadas na realidade.

Luiza Bruun
Enviado por Luiza Bruun em 05/05/2012
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