As Coisas Acontecem.

Lembro bem que me chamaram de todo tipo de nome feio quando falei de Platão naquela famigerada tarde de verão...

Sei que deveria ter me calado, que não era nada daquilo, que era melhor falar do programa “sai de baixo”, do caco antibes, da Magda cotrofe ou do Corínthians, tudo, o carnaval na avenida ou no clube de campo, com cuba libre, Martine e campari bianco, boca vermelha e a dama de tamanco, mais manca, coitada, e solitária, que não se tocava, e ia de banco em banco, tropeçando, agarrada ao copo de gim medieval...

Sei que me dei mal por fazer o que fiz. Não tive culpa, os livros vieram até mim...

Eles ficavam abertos na minha frente o dia todo, mesmo que eu não os quisesse, e faziam plantão diante meus olhos, me perseguindo dia e noite, onde quer que fosse.

Durante muitos anos fui perseguido por esta, vamos dizer, maldição dos livros, que me perseguiam, me perseguiam, dia e noite, noite e dia, segunda a segunda, vinte e quatro horas por dia, me perseguiam, me perseguiam, me perseguiam...

Com a música não foi diferente. Uma vez peguei um microfone, só para ver, distrair, e não é que o maldito não descolou mais da minha mão. E parece que havia um tipo de magnetismo que me impelia a levá-lo próximo à boca, até que minha boca, descontrolada, abria e fechava, e de minha goela um brado louco se despregava, saído da alma desgovernada...

Sei que por um bom tempo convivi com um microfone colado em minha mão, e, como um imã, forçado a ir em direção à boca... Aquela história toda, que se repetia diariamente.

Não tive culpa, juro. Eu nem queria..., mas as coisas foram acontecendo...

SAvok OnAitsirk, 20.05.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 20/05/2012
Código do texto: T3677906
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