Onde se perdeu meu irmão? Parte 1

Agosto de 2008

Augusto e sua irmã estão sentados, imóveis perante a cama onde sua mãe acaba de falecer. Ele está perplexo, e sem qualquer capacidade de reagir emocionalmente, sequer é capaz de chorar neste momento, ficando apenas com os olhos fixos no corpo parado e frio. Ela, chorando até não poder mais, sem forças para se levantar da cadeira.

Augusto não consegue pensar direito nessa hora, mas precisa avisar os familiares mais próximos sobre o ocorrido, mesmo que eles já imaginassem a probabilidade. Sua mãe, no último ano, apenas ficou cada vez mais debilitada pelo tumor que existia em sua cabeça. Em sua mente apenas vem lembranças de sua mãe entrando na sala de cirurgia para retirar o tumor e prometendo para o filho que ficaria tudo bem, isso há um ano atrás, quando ele tinha vinte anos, passando pelo tratamento posterior, com cabelos caindo, o que foi muito duro para ele, que sempre admirou demais a beleza da mãe.

A irmã, Isabel, sete anos mais nova, continua chorando compulsivamente, até que Augusto tira-a do quarto e tenta fazê-la dormir, mas era impossível neste momento.

Eram irmãos por parte de mãe, de pais diferentes. O pai de Augusto, já divorciado há anos de sua mãe, vivia na Argentina e estava no seu terceiro casamento. Isabel sequer conhecera seu pai, e pelo que ouvia da mãe, não tinha vontade de conhecê-lo. Seu irmão era muito mais um pai do que o desconhecido.

Após ligar para os familiares, Augusto ligou para a pessoa de quem mais precisava no momento, Fábio.

Fábio, vem aqui pra casa agora. Preciso da tua presença agora – disse Augusto.

Fábio é o ex-namorado de Augusto, que mesmo com o término da relação, está sempre disposto a ajudar o rapaz. E esse momento é indiscutivelmente apropriado para tanto. Ele chega na casa, abraça Augusto e passa a mão em seu rosto numa tentativa de consolá-lo. O término do namoro foi muito mal explicado, mas é notória a preocupação de Fábio com o ex.

E como está a Isabel? Perguntou Fábio.

Continua no quarto, chorando, chorando e chorando – respondeu o ex.

De repente, aparece a garota na sala, ainda com uma lágrima saindo. Fábio tenta de qualquer forma consolar a menina, abraçando-a. Ela sabia já do ex-namorado do irmão, aceitava e tinha uma ótima relação com ele.

Fábio conduz a garota para a cama e tenta fazê-la descansar. Enquanto isso Augusto tinha que fazer uma complexa ligação para a Argentina, não que fosse uma operação difícil, mas a pessoa com que tinha que conversar era. O telefone tocou três vezes:

Alô – falava uma voz calma e grave – quem fala? Como se precisasse de identificação, ele conhecia o número.

Você sabe quem é – respondeu Augusto.

Sim, eu sei, mas prefiro não lembrar muito, faz parte do meu passado – retrucou o pai.

Estou apenas ligando para informar que minha mãe, sua ex-mulher, acabou de falecer. Eu não faço muita questão, mas se quiser, pode comparecer ao velório e ao enterro.

Como farei isso se moro fora do Brasil?

Isso já não é problema meu, como eu disse, disse que você pode vir, não que deve.

Augusto desligou o telefone. Seu pai era a pessoa mais complexa com quem já lidara por um bom tempo. Dono de uma arrogância natural, com quem não conseguia ter uma discussão, nem mesmo quando este causou grandes sofrimentos à mãe de Augusto. Casou-se com a mesma com grande interesse no dinheiro que sua família possuía, que não era tanto assim, mas proporcionava uma situação muito confortável.

A campainha tocou. Augusto foi atender, era seu tio Ricardo, irmão de sua mãe, que logo lhe deu um grande abraço. Em seguida pediu para ver o corpo da irmã e o sobrinho o conduziu ao quarto.

O tio ficou no quarto e Augusto retornou à sala, sentando no sofá com a cabeça atordoada. Logo em seguida Fábio apareceu com uma caneca contendo chá para Augusto.

Ela dormiu? Perguntou o irmão.

Ainda não, mas acredito que dormirá logo – respondeu Fábio.

Augusto colocou as mãos no rosto, com vontade de chorar, mas não conseguia. Fábio puxou sua cabeça para perto de seu ombro.

Eu nunca me senti tão perdido, não sei como faremos para viver daqui pra frente. Somos apenas nós dois agora.

São apenas vocês dois na casa. Pode acreditar que não estão sozinhos. Eu estou aqui e estarei sempre ao seu lado para tudo. E vocês tem família para isso também –disse Fábio.

Estavam os dois em um clima de quase romance quando foram interrompidos pelo tio.

Eu tenho que ir agora. Vou preparar tudo para o velório e o enterro. Mantenho você informado – disse o tio.

Obrigado por arrumar isto para nós – respondeu o sobrinho.

Não tem o que agradecer, é minha obrigação também.

O tio foi embora e Fábio perguntou se ele sabia sobre eles. Augusto respondeu que nunca tocou no assunto, mas era de se desconfiar, considerando que nunca tinha apresentado uma namorada à família.

Você pode passar a noite aqui? Perguntou Augusto.

Posso. Eu não trabalho amanhã – respondeu o ex.

Passado o drama do velório e do enterro, boa parte da família foi passar o resto do dia na casa da falecida, com os filhos. Augusto e Fábio agiram como se fossem amigos. Ao final do dia estavam Augusto e Isabel sentados no sofá, com a televisão desligada e olhando para o nada.

O que faremos agora? Perguntou a garota.

Eu não faço idéia. Temos que esperar que a herança da mamãe saia e poderemos ver como vamos fazer para seguir com a vida.

Farah
Enviado por Farah em 03/06/2012
Reeditado em 12/06/2012
Código do texto: T3703689
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.