Mais do mesmo

Sábado a noite, salto alto, cílios postiços, perfume forte e doce, pouca roupa e muito blush. Ela já sacou que balada não é lugar pra príncipe encantado, ela não sai pra caçar, sai pra curtir, mas provoca mesmo assim. Os mesmos rostos, as mesmas músicas, nada de interessante, a não ser a vodka dupla e pura que ela sempre pede. Observando minuciosamente as escassas opções ela viu aquele garoto, aquele já conhecido, e sentiu potencial. Com luzes girando e risadas altas ela decide dar razão ao que o universo vem pregando a seu respeito, que ser só uma noite tem também seu lado positivo e que se dane, a vida é dela, ela faz o que quiser. Rápida e direta, nada de voltas, nada de indiretas cansativas, a paquera dela se resume (sempre) a sua frase preferida e problemática: qual é a sua? A dele era ela. E foram. Fria, mecânica, emocionalmente inatingível e extremamente chata. Esse é o personagem que ela geralmente veste pra proteger todo mundo dos danos que ela sempre causa, mas o garoto era bom. Ele jogou sujo com beijos demorados, abraços fortes, sorrisos sinceros, timidez. Ela tremeu, mas não desabou, ainda. Foi no dia seguinte, depois do tchau insosso que sela a aura "isso não significou nada" que ela se perguntou "porque não?". Aí sim, desabou e deu adeus ao autocontrole. Ela queria mais. E, só pra variar, insistiu mais do que devia, deu mais do que podia, quis mais do que ele estava disposto a oferecer. Esse é seu grande problema com os relacionamentos, é que quando ela decide encarar de verdade, ela manda embora a garota decidida, divertida, bem resolvida e desencanada pra dar lugar àquela chata, grudenta, louca, atirada, carente e infantil. Ninguém merece, ninguém encara. Ela atrai e assusta, ela diverte e cansa, ela começa firme, mas amolece demais e estraga tudo. Se arrepende tarde demais, vê eles indo embora, faz que não liga, sangra por dentro e volta à estaca inicial. E no fim das contas, ela até gosta de ser sincera, de mostrar a real, de assustar mesmo, de ver os covardes correndo pra longe. Quem aguentar o tranco, quem estiver afim de encarar de verdade leva o ela como prêmio.

Denyse Barrêto
Enviado por Denyse Barrêto em 25/06/2012
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