Amor de Giz (II PARTE): Ele

Alto, divertido, corpo desengonçado denunciava um passado atlético. Em seu meio é conhecido por ser mulherengo, boêmio, experimentado. Divorciado pelo menos duas vezes, três filhos em idade escolar, lares desfeitos, feridas abertas, vários papagaios no mercado, hábitos polêmicos e dizem até que é viciado em sexo.

A cerveja é sua fiel companheira e se entitula amante da própria vida. Pouco é convidado para eventos familiares, é visto com reservas até pelos colegas de trabalho. Diz-se espírita, mas relação de proximidade só com Nossa Senhora da Conceição da Praia de quem é devoto. Não é um homem bonito, mas beleza não é atributo masculino, gaba-se.

Másculo, olhar inquieto, mãos grandes, fala grave, parece implicante, violento. Apesar de falar o tempo todo e ser indiscreto, ninguém sabe muito sobre ele: aonde mora, se é feliz ou tem amigos. Vive às gargalhadas mas tem olhos gelados, parados, distantes.

Professor de cursinho a duas décadas, ao relacionar-se não conhece regras e diversas vezes fora demitido por envolvimentos com alunas enquanto ainda era casado e pai de duas estudantes matriculadas no mesmo estabelecimento.

Foi à época do primeiro divórcio e de tão difícil o relaciomento, sua ex decidiu morar em outra região brasileira a fim de manter-se distante do sofrimento e humilhação diárias. Não muito depois, casara-se novamente, mas o medo do abandono e as mágoas não haviam sido curadas. Outra separação, não sem antes, sucessivas traições.

As mulheres mais jovens continuaram sendo seu passatempo favorito. Relacionamentos rápidos, múltiplos e ausência de sentimento. Diversificara o gosto e além das estudantes, seu foco recaía sobre as mal-casadas, recém divorciadas ou profissionais liberais. Não o fazia por mau caratismo, apenas por instinto de sobrevivência, já que continuava professor, amante das mulheres e o salário virara mesada depois que se descontavam as pensões.

Gostava de presentes: perfumes importados, roupas de griffe, eletro-eletrônicos e passagens de avião. Não era o preço dos presentes que lhe atraía, mas por eles media o nível da afeição.

Aprendera a cozinhar e o fazia com esmero sendo especialista em camarões, sua iguaria predileta.

Próximo dos cinqüenta e com vinte da primeira separação, entediara-se. Num raro momento, falara comovido da vida de casado dos ex-colegas de esbórnia, felizes, segundo ele, porque encontraram mulheres que os completaram a tal ponto de transformá-los em homens novos.

CONTINUA...

Arsenia Rodrigues
Enviado por Arsenia Rodrigues em 09/02/2007
Reeditado em 26/06/2008
Código do texto: T375626
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